Paul McCartney está em nova turnê pelo Brasil. Lotando as arenas por onde passa. Encantando as pessoas. Emocionando fãs de todas as idades, inclusive, crianças e uma promissora geração de jovens interessados em ouvir música de qualidade, o que não deixa de ser um consolo em tempos de escassez de talentos, do aparente esgotamento criativo potencializado pelo inferno veloz das mídias digitais e da apologia ao mau gosto. Não me recordo em que circunstância, em que idade e quem foi a pessoa que me apresentou a música de Paul McCartney e dos seus parceiros na banda The Beatles. A primeira lembrança diz respeito à morte de John Lennon, em dezembro de 1980. Eu tinha apenas 15 anos. Fiquei absolutamente impactado e, desde então, passei a devorar tudo que dissesse respeito ao Garotos de Liverpool. Durante muito anos, pensei que Lennon fosse o beatle favorito, por causa do sarcasmo, da rebeldia e do engajamento político. Com o tempo, as leituras e as pesquisas, passei a compreender o papel de cada um dos componentes da banda, até descobrir que o líder, na verdade, não era John, mas, Paul. Hoje, talvez possa afirmar que Paul McCartney seja o meu “beatle predileto”, provavelmente, pelo viés da ausência forçada de George e Lennon, sei lá. Paul é o artista que mais admiro na música internacional. Confesso que, no auge dos seus 81 anos, temia pela sua performance vocal no palco. Afinal, com o envelhecimento do corpo, as cordas vocálicas enrijecem, perdem a capacidade funcional para vibrar e para executar os sons mais agudos, como ocorre na mocidade. Além do que, a capacidade pulmonar ventilatória também sofre as consequências das sucessivas primaveras vividas. Paul continua vívido, competente e carismático. É claro, recebendo o importante adjutório vocal dos seus companheiros de banda, uma trupe de músicos que o acompanha há mais de duas décadas. Por meio do seu repertório musical, da sua visão de mundo e do seu profissionalismo, o “velho Macca” fomenta o que existe de melhor em mim. Parece uma relação um tanto terapêutica. Sinto-me mais confiante e mais calmo quando escuto as suas canções, quando vejo a sua alegre desenvoltura num palco, durante quase três horas ininterruptas de show. É de tirar o fôlego. Tipo “lição de vida” mesmo. No final das contas, parece plausível envelhecer sem perder o viço, a elegância, o bom humor e a dignidade. Em tempos de desencanto e de desesperança com os rumos da humanidade, Paul McCartney é um alento. Uma forma singela que encontrei para retribuir tanto amor foi homenageá-lo por meio da compilação de 10 das melhores canções de sua carreira solo, após a dissolução do Beatles. Cheguei à lista por meio de pesquisas na web, pela comparação com incontáveis listas preexistentes, pela conversa com outros admiradores da sua obra e pelo apoio essencial dos leitores da Revista Bula. Aproveitem o quanto quiserem. Temos todo o tempo do mundo. Afinal, Sir Paul McCartney tornou-se eterno.