Baseado em história real, filme na Netflix vai te fazer acreditar no impossível Divulgação / Outsider Flims Productions

Baseado em história real, filme na Netflix vai te fazer acreditar no impossível

Mulheres saíram do casulo faz tempo, mas vira e mexe, uma ou outra ainda surpreende — mormente para homens tolos que mal disfarçam sua aversão ao belo sexo. Elas têm se lançado pelo mundo; se unido com seus verdadeiros amores, uma grande revolução quando se volta aos casamentos por conveniência de não muito tempo atrás; abraçado carreiras antes exclusivamente masculinas (ou foram bravas ao afirmarem-se nos ofícios em que poderiam ter brilhado junto com os homens desde sempre); feito coisas admiráveis. Em sendo assim, passa quase em branco quando marcam mais uma cruz na coronha e assombram marmanjos.

“Quatro Mulheres, Duas Rodas” acompanha dois pares de amigas de três gerações diversas numa aventura nada desprezível. O indiano Tarun Dudeja dá contornos épicos à história real de um quarteto de amigas que resolve ir ao lugar mais alto do planeta desfrutando de um grande prazer, o que soa como uma afronta para boa parte da sociedade em que vivem, mas inspira o respeito de tantos outros. Com argúcia, Dudeja invoca o comentário sociológico, não obstante dê preferência mesmo à força de suas protagonistas, seguras de seu objetivo malgrado tenham de escalar dificuldades sobre-humanas.

Motos numa arena põem o espectador no clima. Mahi, Uzma, Manjari e Sky chegam a uma aldeia pobre onde uma garota colhe feno e uma manada de búfalos pasta num campo de gramíneas altas. Sky precisa satisfazer uma necessidade fisiológica, deveria tê-lo feito na estação anterior, mas o banheiro estava imundo e sua mãe decerto não lhe recomendaria. “Sua mãe não veio”, diz-lhe Mahi, a mais velha do grupo, e nesse primeiro conflito interno resulta numa sequência divertida, em que as personagens de Fatima Sana Shaikh e Ratna Pathak Shah procuram um canto para que se liquide o assunto e se retome o cronograma. Elas voltam à estrada, numa única fila, e vão cortando mais chão de uma rodovia que não acaba nunca, deixando cada vez mais nítidas suas diferenças.

Manjari, a caçula vivida por Sanjana Sanghi, mostra que está nessa na intenção de angariar inscritos para seu canal no YouTube, enquanto Uzma foge de um marido, muçulmano e autoritário. Este é sem dúvida o tipo mais bem-desenvolvido do roteiro de Dudeja e Parijat Joshi, e Dia Mirza alcança notas de profunda melancolia na revelação de uma mulher infeliz, mas atenta. De algum modo, é ela quem encaminha o filme para a conclusão, momento em que a narrativa ganha ares de um melodrama com a hospitalização de Mahi num nosocômio de Leh, no norte da Índia, já bem próximo ao Himalaia. O terceiro ato reúne as grandes cenas de “Quatro Mulheres, Duas Rodas”, e o diretor permite que venha à superfície uma poética discussão sobre vida e morte, renovação e plenitude. Aos pés do Khardung La, o mais longe que podem chegar com suas borboletas de aço e ponto de onde voam para céus mais intangíveis.


Filme: Quatro Mulheres, Duas Rodas
Direção: Tarun Dudeja
Ano: 2023
Gêneros: Drama/Aventura
Nota: 8/10