Suspense de cortar a respiração na Netflix: você está pronto? Divulgação / Chernin Entertainment

Suspense de cortar a respiração na Netflix: você está pronto?

“Underwater” é um filme lacônico, para o bem e para o mal. Em pouco mais de hora e meia, William Eubank consegue mergulhar seus atores num imenso tanque que emula certo ponto do Pacífico Ocidental onde ninguém gostaria de estar. As fossas Marianas, a profundidade máxima a que o oceano chega, são palco de uma expedição digna de “Titanic”, o épico em que James Cameron glamoriza a angústia dos mais de três milhares de almas que soçobraram quando o transatlântico inglês foi a pique, em 15 de abril de 1912, com a diferença de que, aqui, o risco invade a embarcação, no caso um submarino, muito antes de uma eventual ameaça de naufrágio.

O roteiro de Adam Cozad e Brian Duffield fala de um organismo anômalo invasor determinado a roubar o oxigênio da tripulação, que, claro, não tem muita ideia sobre como defender-se e abre as portas para o caos. Qualquer produção com argumento semelhante deve pagar tributo a “2001 — Uma Odisseia no Espaço” (1968), de Stanley Kubrick (1928-1999), uma discussão atemporal sobre os questionáveis progressos do homem, tecnologia, inteligência artificial e a possibilidade cada vez mais lógica de vida fora da Terra. No filme de Eubank, homens lutam contra esse inimigo oculto e entre si pela sobrevivência, metáfora surrada que tange nosso desleixo com o ambiente e o quão baixo descemos em nome de uma causa supostamente nobre.

Depois de um prólogo um tanto enfaroso, mediante o qual o diretor explica com legendas sobre fundo azul turquesa o motivo da expedição naquela área remota do Pacífico, Norah Price entra em ação. A bióloga marinha interpretada por Kristen Stewart parece ainda mais perdida nas funduras do mar, enfrentando quedas de energia de tempos em tempos, sofrendo com a ausência crônica de luz natural e como se se policiando para não consumir o oxigênio de ninguém.

A fotografia de Bojan Bazelli deixa a cena ligeiramente untuosa, sugerindo que há muito mais de sonho (ou pesadelo) que de verdade na rotina dela e do capitão Lucien, o líder militar da empreitada vivido por Vincent Cassel, e os demais. Pouco depois que a heroína de Stewart escova os dentes, partilhando sua solidão com uma aranha que, sabe-se lá como, suportara dias consecutivos de pressão e escassez de alimento, eles ouvem um rasgo seco na parte inferior da proa, seguido de um estrondo.

Até o desfecho, o repto de Eubank é manter o interesse da audiência em eventos assustadores, mas prosaicos, dadas a conjuntura a que Norah, Lucien e as outras quatro pessoas já haviam se acostumado, mas um baque dessa ordem, por mais razoável que possa ser, nunca é prontamente bem-digerido. O diretor reserva para os últimos minutos a possível solução para a horda dos organismos pluricelulares que se apossa da nau, umas certas cápsulas de fuga, que já não constam mais do estoque.

A sequência em Norah deixa o submarino e anda por cerca de um quilômetro e meio no fundo do oceano à cata desse tesouro denota o caráter artesanal, quase mambembe de “Underwater”. Kubrick sempre foi melhor que Cameron.


Filme: Underwater
Direção: William Eubank
Ano: 2020
Gêneros: Terror/Ação
Nota: 8/10