Nas redes sociais borbulham pequenos textos sobre a Cultura do Desinteresse. Essa cultura que consiste em mostrar-se pouco interessado no outro, naquele que se dispõe a entrar nas nuances do flerte contemporâneo. Esse desinteresse, hoje, é o primeiro dos recursos a ser usado no jogo da conquista. Comportamento que expressa todas as características da pós-modernidade, em que as redes sociais ditam quais comportamentos podem ser aceitáveis ou não. E mostrar-se muito atencioso nesses espaços indica carência. E ninguém quer ser rotulado como carente.
A internet — e com ela as redes sociais — solidificou o conceito da indiferença. Não curta, não interaja, não comente, não mande mensagem, não seja o primeiro a puxar assunto; visualize, mas não responda de imediato; faça cena, crie desafios para o outro lado, deixe-o bater cabeça para entender esses sinais. É bem provável que você já tenha empregado, assim despretensiosamente, algum desses recursos.
O desafio é ser indireto. Não seja claro, não vá direto ao ponto. Ser direto é uma insanidade. Soa estranho jogar às claras e abrir-se de forma espontânea. Esse estranhamento ganhou veloz e espantosa força nas últimas décadas, o que não causa tanta surpresa, já que o “ethos” do nosso tempo vive sob o signo da velocidade.
A reclamação mais comum é do tempo de resposta para tudo. Pode ser que a resposta demore por razões bem distintas daquela que você imagina. A pessoa simplesmente não querer conversar naquele momento. Respeitar o momento do outro é aquela regra que precede a todas as outras. Tente perceber isso. Porém, a pergunta que fica é: o que estimula nesse jogo do desinteresse? Uma das possíveis respostas talvez seja a frustração. Frustra-se com alguma situação e, a partir daí, buscam-se recursos para evitar novos desapontamentos.
Na era dos líquidos amores, da líquida vida, das relações voláteis e egoístas, esse jogo de desinteresse apenas dá mais força para o afastamento do outro, para o esvaziamento do quão importante se faz necessário enxergar-se no outro que está próximo. Nesse falsificado jogo do desinteresse só há perdedores. Perde quem finge não se interessar, porque ele se priva de viver como deseja as experiências da vida, em prol de uma regra sem sentido. Perde também quem é o alvo do desinteresse, que se sente diminuído, desprezado e com sérias consequências para a sua autoestima. Não há lógica que seja plausível nisso. Quando há reciprocidade, por que diabo não deixar as vontades acontecerem? Parece não haver permissão para que as coisas sejam o que são. Há sempre a preocupação em adiantar resultados e situações. E não há como adiantar a vida. Jung, no seu livro “Memórias, Sonhos e Reflexões”, diz algo fundamental para se entender esse complicado processo que é a vida: “A história de uma vida começa num dado lugar, num ponto qualquer de que se guardou a lembrança e já, então, tudo era extremamente complicado. O que se tornará essa vida, ninguém sabe”. Ou seja, não coloque a carroça na frente dos bois. Não é possível adiantar resultados de algo tão imprevisível quanto a existência.
Nessa pretensa sociedade livre, o que mais se faz é fortalecer mecanismos de aprisionamento dos desejos. Por isso, não viva pela metade com receio de não estar vivendo uma vida inteira. Não se prenda, porque se esforçar em mostrar que não se importa é perder o que é mais importante, que é viver. E a única função da vida é essa: ser vivida.