Baseado em clássico da literatura, uma das maiores obras-primas dos últimos 30 anos de cinema está na Netflix Divulgação / Twentieth Century Fox

Baseado em clássico da literatura, uma das maiores obras-primas dos últimos 30 anos de cinema está na Netflix

Michael Mann é um nome poderoso em Hollywood. Por trás de obras aclamadas, como “Profissão: Ladrão”, “Fogo Contra Fogo”, “O Informante”, “Colateral” e “O Aviador”, o respeito que conquistou ao longo de sua carreira foi motivo para que quando chegasse em executivos da Twentieth Century Fox dizendo que queria gravar “O Último dos Moicanos”, eles simplesmente respondessem: “Sim, ótima ideia!”. Com um orçamento de 40 milhões de dólares, o filme gastou mais do que o estúdio previa, principalmente porque Mann é tão perfeccionista que filmou cada tomada, no mínimo, 20 vezes.

E o preciosismo do diretor combinou bem com o de Daniel Day-Lewis, premiado três vezes com o Oscar de melhor ator. Ele interpreta o protagonista, Hawkeye, um homem branco criado desde os dois anos de idade por indígenas Moicanos. O ator se isolou durante alguns meses no deserto, onde se virou caçando e pescando para compreender o estilo de vida de seu personagem. Além disso, ele também treinou tiro e combate com um militar americano.

 Ambientado no Leste dos Estados Unidos, englobando os territórios de Nova York e os Grandes Lagos, muito da história se passa às margens do rio Hudson e florestas antigas de Adirondacks, quando havia bastante exploração de madeira. Para se assemelhar mais com o local como era à época da história, Mann optou por filmar na Carolina do Norte.

O enredo se passa no século 18 e o filme é baseado no romance épico de James Fenimore Cooper, publicado em 1826. Hawkeye se vê no centro de conflitos territoriais entre britânicos e franceses, bem como entre colonos e nativos americanos. A vida do protagonista sofre uma reviravolta após seu encontro com Cora (Madeleine Stowe) e sua irmã, Alice (Jhodi May), filhas do coronel britânico Munro (Maurice Roëves), cuja carruagem se torna alvo de ataques de facções da guerra. Elas são guiadas por Hawkeye e seus amigos leais Chingachgook (Russell Means) e Uncas (Eric Schweig), mas acabam presos em meio ao caos dos conflitos e à mercê de grupos inimigos.

O filme também é principalmente inspirado na versão cinematográfica de Philip Dunne, de 1936, no qual Mann comprou os direitos de remake. O cineasta afirma que assistiu ao clássico logo após a Segunda Guerra Mundial e que foi um marco em sua vida. Mann, que considera o texto desta obra de Dunne quase perfeito, quis reproduzir boa parte dele. Já elementos mais fantasiosos do livro são exterminados, porque o diretor os considerava “bobagens”.

Mann se diz particularmente fascinado por aquele período de tempo em que o filme se ambienta e na disputa de dominação cultural e territorial. Ele, ainda, diz que não pretende passar nenhuma mensagem política com sua obra, apenas explorar as nuances de um amor tão imprevisível entre duas pessoas completamente diferentes. Hawkeye é um homem simples e mundano, com hábitos e conhecimentos de sobrevivência. Cora é uma princesinha que sai da Inglaterra para encontrar o pai e que não imagina que o mundo em que está adentrando é tão hostil e insalubre. A jornada de amor entre eles é intensa, caótica e devastadora, o que leva os espectadores através de montanha-russa de emoções à flor da pele.

Ganhador do Oscar de melhor som, o filme tinha originalmente três horas de duração, que tiveram que ser enxugadas, por ordens da Twentieth Century Fox, para ser mais comercial. Um épico belíssimo e comovente que mais de 30 anos após seu lançamento não perde o charme e surpreende pela potência de suas atuações.


Filme: O Último dos Moicanos
Direção: Michael Mann
Ano: 1992
Gênero: Drama/Romance/História
Nota: 10

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.