Esqueça os contos de fadas. A vida real é um conto de falhas

Esqueça os contos de fadas. A vida real é um conto de falhas

Sabe aquela história da princesa que foi resgatada no alto da torre pelo príncipe encantado e foram felizes para sempre? Conversa para boi dormir. A gente cresce ouvindo sobre um mundo perfeito, até o dia em que encaramos a realidade e nos damos conta de que a vida não é um conto de fadas. Pelo contrário, ela está mais para um conto de falhas. E o que fazer quando descobrimos que o “felizes para sempre” de fato acaba ou simplesmente não existe? Ora, aprender a viver com menos romantismo e mais ceticismo, com menos idealização e mais evidências.

Ninguém morre de amor nos dias de hoje. A gente chora, diz que vai se matar, que vai matar o outro, que vai explodir o bairro inteiro, mas é tudo mentira. Morrer de amor soa tão mentiroso, que chega a ser piegas. Até ingênuo, porque nesses novos tempos o fim normalmente invoca recomeço, e tudo o que é novo se apresenta como o mais promissor.

Foi-se o tempo em que uma mulher vivia apenas um lance ou um romance. Neste caso, quando não dava certo, aí sim, era a morte. Agora, não. Agora é bola para frente. A gente se rasga, mas depois se remenda. Ainda que as cicatrizes estejam abertas, a mulher cai e se levanta, renasce das próprias cinzas como uma fênix.

Há quem diga que a maturidade é uma tremenda estraga-prazer. Quando ela chega, varre para longe a nossa porção poética, joga fora a candura dos sonhos de menina. Na verdade, ela não tem a menor pretensão de exterminar com o romantismo: apenas nos mostra que não existe uma só história de vida, mas várias em uma só vida. Ela vem para nos ensinar que o final nem sempre atende às nossas melhores expectativas. Enfim, a maturidade não é idealista, é realista.

Crescer é isso: deixar que o amadurecimento brote dentro de nós, entendendo que os erros fazem parte do caminho e que a perfeição, definitivamente, não existe. Seguiremos colecionando tropeços e guardando cada tombo na gaveta de cima do coração. Choraremos a cada ponto final como uma menina que perde sua boneca pela rua. A melancolia será a nossa companheira na coleção de falhas.

Ainda assim, a mulher madura jamais perderá sua doçura e essa mania de ter fé na vida, fé no homem e no que virá. É que a nossa felicidade não está atrelada a contos de fadas, castelos e príncipes encantados, pois temos o poder de escrever e reescrever nossas próprias histórias. O resto é conversa pra boi dormir.

Karen Curi

é jornalista.