Mulheres não precisam de terapia, precisam ir juntas ao banheiro!

Mulheres não precisam de terapia, precisam ir juntas ao banheiro!

“Se homem fosse coisa boa, Deus não teria lhe arrancado as costelas!”, escutei vindo do banheiro ao lado, enquanto me dedicava ao quase gozo de esvaziar minha bexiga saturada de teor alcoólico. Aliás, seria impossível não ouvir o tom esganiçado de uma mulher em estado ébrio. Confesso que achei, no mínimo, pertinente e pitoresco. Do lado de fora, gargalhadas estridentes, frases incompletas, pensamentos desconexos. Aquelas línguas em brasa chicoteavam o sexo masculino. Do lado de dentro, declarações de amor que dariam inveja a Shakespeare, rimas com “nu” e “menu” que constrangeriam até mesmo Nelson Rodrigues. Senhores, sejam bem-vindos ao banheiro feminino.

Abri a porta sorridente. As moças me olharam de cima a baixo e uma delas já veio me interpelando, com a intimidade que só o combo “toalete + álcool + bar” é capaz de nos dar:

─ Não é, amiga? Me diz, você conhece algum homem que presta?

Imediatamente concordei. Quem sou eu para discordar de uma declaração assim, contundente? Fui pega de surpresa por uma pergunta tão óbvia que respondi com a previsibilidade esperada: Tudo filho da puta. Aliás, quem sou eu para discordar das minhas mais novas amigas de toda a vida? Estávamos ali, no mesmo barco furado do amor, passando pelas mesmas raivas, pondo a culpa na testosterona para não assumir a nossa cegueira, carência e fragilidade.

Pois bem. Com a inconstância da TPM, mudamos de assunto rapidamente para algo mais interessante. Do novo batom matte ao tubinho bandage, da marca de tonalizante ao rímel que substitui o curvex, do tênis para pisada pronada à calcinha sem costura. É por isso que as mulheres demoram tanto no banheiro. Precisamos nos manter atualizadas e nada melhor que um banheiro de bar para renovar as ideias. Aposto que os homens pensam que a gente só faz xixi, retoca a maquiagem e ajeita o decote. Não sabem de nada, inocentes.

Ali, no seio de uma sociedade quase secreta — eu digo “quase” porque não somos boas em guardar segredos — já tínhamos esquecido o mundo lá fora em prol de nós mesmas. Decerto que as mulheres têm uma memória fantástica, mas, sob o efeito do álcool, as nossas lembranças e conexões derretem mais rápido que gelo na boca do diabo.

A que bebe cerveja é a mais sorridente e festiva. Fala alto, acha graça da amiga, do garçom, da música e dela mesma. A apreciadora de vinho é geralmente a mais fina. Ela é a amiga sofisticada e romântica. Muitas vezes termina a noite sensível e com sono. A que toma vodka é intensa. Ela não conversa, grita. Ri alto, chora alto, dança mesmo depois que o som acaba. É praticamente a dona do bar. A que bebe cachaça não segue modinha. Ela é autêntica. Que piña colada que nada! Desce mais uma, porque hoje ela só dorme amanhã!

Agora imagine todas essas mulheres dentro de um só banheiro? É praticamente uma terapia de grupo com desequilíbrio hormonal.

Fique sabendo que no nosso templo profano esquecemos do namorado, do crush, do cafajeste. Nos despedimos com elogios nem sempre sinceros, porém adequados. Não perguntamos os nossos nomes porque provavelmente não lembraremos ao sair pela porta. Mas tem coisa que a gente não esquece: a marca do batom violeta e que, se homem fosse coisa boa, Deus não teria lhe arrancado as costelas, como disse a minha mais nova amiga de porta.

Para que terapia quando se pode ir ao toalete? Não existe unha quebrada, menstruação adiantada, calcinha enfiada, roupa rasgada, que um banheiro feminino não dê jeito. Para as outras coisas, uma boa dose e uma boa amiga!

Karen Curi

é jornalista.