Paul W.S. Anderson parece meio obcecado com videogames, com alguma razão. Depois do sucesso estrondoso da série “Resident Evil” (2002-2016), o diretor se enfronha na história de uma guerreira e seus subordinados tentando sobreviver depois da tempestade de areia que os transporta para um universo paralelo, um tanto mágico e bastante hostil, em “Monster Hunter”, onde aplica a fórmula de que já lançara mão na franquia que o consagrou.
Anderson, uma espécie de guru dos nerds — mormente os que empenham um tempo precioso de seu cotidiano assumindo novas identidades em jogos eletrônicos —, conta com esse nicho a fim de replicar o sucesso dos filmes sobre crimes aparentemente inexplicáveis que assolam Raccoon City, e esse é seu trunfo e sua ruína. Seu filme decerto agrada os iniciados, mas quem não tem intimidade com a saga da tenente Nathalie Artemis, lutando contra inimigos tão fabulosos quanto brutais, sente-se como uma criatura marinha num deserto escaldante.
A trilha sonora de Paul Haslinger aproxima-se bastante da música usada em diversões cibernéticas enquanto uma arca se desloca por uma imensa extensão de terra árida. Dentro dela, a tenente Artemis não tem muita ideia sobre como vai acabar sua missão, nem se poderá levar seus comandados ao destino original em segurança. Milla Jovovich, a musa (e esposa) de Anderson, apresenta um desempenho satisfatório à frente do novo projeto, mas não se pode dizer que sua figura emule a simpatia que Alice, a heroína de “Resident Evil”, desperta. Acomodada, Jovovich transpõe para “Monster Hunter” quase todos os cacoetes de sua outra personagem, amenizando-os de quando em quando à medida que o diretor introduz o elenco nas particularidades do que é contado. A Ranger não perde a oportunidade de expressar a Dash, a colega vivida de Meagan Good, seu incômodo diante de tantas mudanças, separações compulsórias, o véu do desconhecido em tudo.
Sua solidão mais indevassável é açulada e contida com igual força com a entrada em cena do caçador de monstros do título. Tony Jaa aporta no filme encarnando a sombra que paira entre a pretensa bondade de um lugar misterioso ainda por se deixar conhecer e a violência crua que grassa aqui nesta Terra desde sempre. Lamentavelmente, Anderson prefere destacar no roteiro a composição física de seu trabalho — que, não se pode negar, adquire substância dramática com o embate dos mocinhos de Jovovich e Jaa e um impressionante dragão criado pela computação gráfica da equipe liderada por Erica Van Den Raad. O problema é que o diretor leva quase dois terços do longa tentando achar o tom adequado para as metáforas que encadeia sem nenhum método, sobretudo na abertura, até que soa o gongo, tudo se desvanece e resta a sensação de que nossos monstros são imbatíveis em sua truculência. E que eles nos acham seja em que mundo nos escondamos.
Filme: Monster Hunter
Direção: Paul W.S. Anderson
Ano: 2020
Gêneros: Ação/Aventura
Nota: 7/10