Sylvester Stallone está velho, isso ninguém contesta. Como se pode decretar da noite para o dia, no entanto, o ocaso de um mito que ao longo de meio século de uma carreira admiravelmente disciplinada tem se especializado em amolgar rivais — e a si mesmo — com os socos e chutes que recebe de volta, e trucidá-los na ponta de fuzis e metralhadoras ou jogando granadas, bombas e o que mais os polpudos orçamentos de Hollywood lhe facultam? Stallone nunca ousou responder à questão e usa esse tempo para escrever o roteiro de “Os Mercenários 3”, junto com Creighton Rothenberger e Katrin Benedikt, contando com a direção segura de Patrick Hughes, experiente no comando de projetos dessa natureza, mas dinâmico o bastante para lançar-se a empreitadas mais refrescantes a exemplo de “O Homem de Toronto” (2022), comédia em que junta com habilidade temas à primeira vista desconexos, mas que se interligam, graças ao absurdo das situações que se vão deslindando sem pressa.
Aqui, entretanto, a tônica é mesmo o batidão de sempre, com Sly, literalmente, encarando uma pedreira atrás da outra, fazendo a alegria dos fãs e deixando claro que ainda tem muita lenha para fogueiras de todos os tamanhos.
Na pele de Barney Ross, Stallone persegue um trem de carga adaptado para levar de volta os prisioneiros que escaparam da fictícia cadeia de Denzali, em algum lugar da África Oriental. Nessa primeira sequência, porém, quem sobressai mesmo é Doc, o lobo solitário (e furioso) de Wesley Snipes, dando trabalho aos guardas e ao próprio Barney, que se empenha em seu resgate como se dessa operação dependesse sua vida, uma pista que o diretor larga com displicência metódica, a fim de recuperar esse momento no segundo ato.
Paralelamente, o diretor conta a história de Stonebanks, um vilão tomado de ira e sequioso por reparação depois de ter conseguido sobreviver a uma tocaia, a mando, por óbvio, do personagem central. Mel Gibson começa bem, emprestando ao antagonista a dose exata de sangue frio ao coordenar o sequestro de aliados de Barney, o que fomenta a grande reviravolta do filme, com nove décimos do elenco mobilizados numa operação que culmina em Mogadíscio, capital da Somália, com Snipes, novamente, quebrando tudo. Se se quiser um palpite quanto ao rumo que “Os Mercenários 3” há de tomar, basta se prestar atenção ao riso congelado de Stallone; ele diz muito mais que os belos olhos azuis de Gibson, que se deixam ir apagando progressivamente.
O apelo tiozão do filme é contrabalançado com um núcleo jovem no tom certo, cujas presenças de beldades como a israelense Sarai Givaty e a ex-lutadora de MMA Ronda Rousey, além dos galãs Glen Powell como Thorn e Kellan Lutz na pele de John Smilee, aplicam uma suave demãozinha de glamour numa produção meio austera demais. Os Muppet Babies, como são jocosamente chamados, ficam muito bem em ambientes como academias da moda e confraternizações em bares hipsters, mas também sabem brigar como gente grande, em especial Smilee, por quem Barney manifesta uma predileção que se justifica no desfecho.
Filme: Os Mercenários 3
Direção: Patrick Hughes
Ano: 2014
Gêneros: Ação/Aventura
Nota: 8/10