Se você espera no novo filme de David Fincher “O Assassino” algo tão frenético e dinâmico quanto “Clube da Luta”, desista. As obras são extremamente distintas e pode decepcionar os mais hiperativos e ansiosos. É um psicodrama cujo pavio vai queimando lentamente. Por outro lado, já tem o tom metódico e vingativo de “Garota Exemplar”. Repleto de narrações, a voz de Michael Fassbender, o assassino profissional que protagoniza a trama, é lenta e suave. É preciso ter calma para esperar ele desenrolar a história em seu próprio tempo que, aliás, é um homem paciente, sistemático, racional e calculista.
Baseado na graphic novel de Alexis Nolent, ilustrada por Luc Jacamon, o projeto tem sido ambicionado por Fincher há 20 anos. Quando Fassbender demonstrou compromisso com a produção, o cineasta decidiu que este seria o trabalho que seguiria “Mank”, em um contrato de quatro anos que tem com a Netflix. Já Fassbender, que havia abandonado as telas, também durante quatro anos para se dedicar à carreira de automobilista, retornou para a atuação.
A direção de Fincher é magistral. “O Assassino” adota um tom mórbido e melancólico, com canções de The Smiths ao fundo e a voz de Fassbender que passa todo o decorrer da história dizendo palavras de autoafirmação. Embora o Assassino seja um homem enigmático, é óbvio que ele tem enfrentado dilemas éticos ali, caso contrário não precisaria repetir para si mesmo como deveria se sentir ou o que fazer. Ao mesmo tempo, percebemos como ele mantém o controle das circunstâncias, mesmo quando há um erro de percurso, um pequeno desvio. E Fassbender tem a aura perfeita de um verdadeiro dominador em um jogo sádico e cruel.
Adaptado para as telas por Andrew Kevin Walker, o filme tem fotografia de Erik Messerschmidt, o mesmo de “Mank” Em sua própria profissão, Erick também é um sujeito meticuloso, que gosta de pensar em cada detalhe de cenografia, cor e simbolismos. Ao contrário de muitos outros profissionais de fotografia para cinema, Erick não é muito apegado ao uso de luzes. Pelo contrário, sua aplicação é bastante comedida e isso é visto claramente em “O Assassino”. O longa tem uma atmosfera escura e sombria.
Em determinada cena quando o Assassino encontra a Especialista (Tilda Swinton) em um restaurante, ela, que faz a maior parte do diálogo, quase um monólogo filosófico e reflexivo, recebe um holofote sobre seu rosto, que fica completamente iluminado. Enquanto isso, o Assassino está totalmente na sombra. Ele se mantém quase em silêncio, com poucas palavras. Isso não necessariamente quer dizer que não devemos dar atenção ao personagem, mas também simboliza a natureza anônima de sua profissão, a frieza do personagem e o afastamento emocional de suas vítimas, além de claro, demonstrar que ele não é o principal foco naquele momento específico.
O Assassino vive em fuga e, ao mesmo tempo, em perseguição. Na cena inicial, ele comete o primeiro erro de sua carreira. Aliás, um erro inescusável que o coloca na mira de seu chefe, o Advogado (Charles Parnell). Como sniper, ele erra o alvo e, ao invés de atirar no homem que seu cliente havia o contratado para eliminar, acaba baleando sua amante. Então, ele consegue deixar o local do trabalho e retornar para seu esconderijo na República Dominicana. Quando chega, já descobre que sua companheira, Magdala (Sophie Charlotte), foi brutalmente torturada e está em estado grave no hospital. Após descobrir os autores, ele promove uma caçada implacável e impiedosa contra os agressores.
Filme: O Assassino
Direção: David Fincher
Ano: 2023
Gênero: Suspense/Mistério
Nota: 10