Diga-me com quem andas e direi se vou junto. Devo confessar, atrás do meu trio elétrico segue o bloco dos insanos. É que as minhas amizades carregam a outra metade da minha loucura, da minha alegria, a outra parte da minha bobeira; os outros pedaços do que também sou. Mas, sobretudo, meus amigos carregam a insanidade essencial para suportar o meu pior. Carregam a eloquência necessária para compreender meus avessos. Por isso, prezo estar perto dos loucos. Quem, se não eles, toparia contato tão próximo diante de nossas intimidades?
Amizade e desvario, esta combinação está longe de ser exclusividade minha. Todo mundo tem, ou já teve, uma amiga adoravelmente estranha, que parece ter perdido um dos parafusos enquanto tropeçava por aí. Alguém capaz de tomar de assalto os melhores momentos de nossa existência. Gente de peito aberto, cara lavada, coração exposto. Aquela que nos recebe de braços abertos, como quem acabara de chegar para uma comemoração imperdível. Gente apta a transformar uma simples ida ao banheiro num passeio divertidíssimo, a nos fazer gargalhar até a mandíbula doer, a bailar despretensiosas na pista da vida. Gente que divide conosco os chocolates Lindt e nos ajuda a entrar naquela calça com dois números a menos. Alguém que escuta nossos foras e mancadas, até mesmo em uma ligação inconveniente recebida às três da madrugada. Amigas assim têm o coração mais parceiro de todos, que se acosta ao nosso quando choramos, que aquece as boas memórias e nos assegura acolhimento quando nos atrevemos dançar descalços nas tempestades. Amigas loucas pintam na nossa cara um riso largo, insistem em querer nos ver bem. Cultivar amizades que nos façam sorrir é um privilégio, pois amigo que não sorri junto, tampouco suportará chorar conosco.
A condição para a amizade verdadeira é não ter tantas condições, é crer que certas pessoas carregam por nós, e nós por elas, um bocado de bem-querer. Um tipo de amor despretensioso, mas de força imensurável, capaz de afogar qualquer maré ruim. A amizade é a mais bonita das oportunidades humanas, é feito um lugar de se reconhecer, de saber quem se é. A amizade é feita de “nós”.
Somos loucas? Um pouquinho. Um tanto de loucura que nos livre da chatice, da normalidade infértil e da adultez carrancuda. Somos um tanto loucas, o suficiente para não sermos engolidas pelo senso comum, o bastante para darmos boas risadas, enquanto nossas histórias se cumprem felizes, num tempo que jamais se perderá.