Baseado em best-seller, obra-prima inestimável do cinema com Tom Hardy e Guy Pearce está na Netflix Richard Foreman / Bootleg Movie

Baseado em best-seller, obra-prima inestimável do cinema com Tom Hardy e Guy Pearce está na Netflix

Quantas vezes não ouvimos de pessoas mais velhas sobre o mundo estar cada vez mais decadente, violento e imoral? Se há algo que certamente evoluiu com o tempo, foi a civilização. Leis, governos, pactos sociais, instituições e a educação avançaram contribuindo para que vivêssemos em um mundo minimamente habitável, onde há uma busca constante por justiça social, punição de criminosos, proteção de mulheres, crianças e minorias. Não, ainda não vivemos em uma sociedade justa e perfeita e certamente há muito o que avançar. Mas, acredite, nossos antepassados viviam em sociedades muito mais bárbaras e inseguras, onde a luta para sobreviver era muito mais acirrada. Então, o mundo não está cada vez pior.

“Os Infratores” remonta os anos 1930 nos Estados Unidos, durante a Lei Seca. Baseado no livro de Matt Bondurant sobre seu avô, Jack Bondurant, a história revela um início de século completamente precário, violento e decadente na América.  Gravado na Geórgia por economia, a narrativa se passa mesmo no condado de Franklin, zona rural da Virgínia, onde se localiza a fazenda da família Bondurant.

O trio de irmãos Forrest Bondurant (Tom Hardy), Jack (Shia LaBeouf) e Howard (Jason Clarke) possui uma destilaria ilegal de uísque em sua propriedade e é contrabandista de álcool. Eles rapidamente fazem o negócio expandir para além de sua região. Mas as personalidades contrastantes deles desembocam em alguns problemas familiares, com rivais e, principalmente, com a polícia. Forrest é uma espécie de líder que assume o papel maternal sobre os irmãos. Introspectivo, lacônico e violento, ele é o maior interessado em manter os negócios discretos e silenciosos. Enquanto isso, Jack é vaidoso e ambicioso, já Howard é explosivo. Quando o problema é percebido pelo governo, o intragável detetive Charley Rakes (Guy Pearce) é colocado na cola dos irmãos. Sádico e perverso, ele não pretende parar até chegar às últimas consequências.

Dirigido pelo aclamado cineasta australiano John Hillcoat, o mesmo de “A Proposta” (2005), “A Estrada” (2009) e “Corazón” (2018), o enredo de “Os Infratores” foi adaptado para as telas pelo músico Nick Cave, também responsável pela trilha sonora completa do filme e um dos melhores amigos de Hillcoat. Um misto de gêneros, o longa-metragem mescla drama, gângster e faroeste e usa como inspiração alguns clássicos e documentários, como “Bonnie & Clyde” (1967), de Arthur Penn, “Fúria Sanguinária” (1949), de Raoul Walsh, e “Irmão, Você Pode Poupar um Centavo?” (1975), de Philippe Mora.

Com personagens complexos e multifacetados, o filme envolve por sua profundidade narrativa e pelo antagonismo brilhante, meticuloso e intrigante do personagem de Guy Pearce. A narrativa nos coloca em defesa dos criminosos e contra as autoridades policiais, lidando com a questão social, já que os irmãos Bondurant lutavam para sobreviver em um país de economia falida à época, cujas autoridades corruptas impunhas regras para oprimir ainda mais os mais desprivilegiados.

Com uma violência bastante gráfica, explosiva e brutal, o filme retrata com realismo a dureza dos tempos em que a narrativa se encontra. Além disso, a fotografia belíssima de Benoît Delhomme traz uma estética decadente, com paleta pastel que evoca a sujeira e a degradação da Grande Depressão. Sua iluminação, que cria efeitos de chiaroscuro, promove sombras profundas aumentando o mistério e a tensão da trama.

Também é indispensável ressaltar as atuações impactantes de Tom Hardy, Jason Clarke e Guy Pearce, que elevam seus papeis e que provocam impacto nos espectadores.


Filme: Os Infratores
Direção: John Hillcoat
Ano: 2012
Gênero: Drama/Máfia/Biografia/Policial/Faroeste
Nota: 10

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.