Filme que acaba de chegar à Netflix vai tirar seu fôlego e não te deixará piscar por 85 minutos Divulgação / Cinemundo

Filme que acaba de chegar à Netflix vai tirar seu fôlego e não te deixará piscar por 85 minutos

A começar pela trilha untuosa de Walter Mair, tudo em “Tubarão: Mar de Sangue” lembra aquele outro filme sobre um monstro interoceânico como que amadurecendo por 450 milhões de anos sua ofensiva contra o homo sapiens invasor, bestial, vândalo. Qualquer trama que ouse elaborar o argumento de uma fera marinha que avança sobre banhistas e pescadores deve pagar tributo a “Tubarão” (1975), o clássico cult em que Steven Spielberg urde as metáforas luminosas com que aponta o desleixo do homem no que toca ao meio ambiente, e com o trabalho de James Nunn, em alguma proporção, se dá o mesmo.

Em seu longa, vislumbram-se muitos dos aspectos examinados por Spielberg — mesmo com toda a insânia contagiante de um enredo assim —, mas o trabalho de James Nunn, muito assertivo em sua originalidade astuciosa, contorna o lugar-comum e atraca em outra praia. Aqui, o diretor resolve atacar certa juventude leviana, ignorante, alienada, dando-lhe o castigo que merece, inclusive para a apaixonante mocinha da história.

Tal como em “Tubarão”, uma horda de turistas também se apodera de um balneário paradisíaco outrora sereno, no litoral mexicano. Um luau na praia junta um grupo de pessoas, e entre eles estão Greg, Tyler, Tom, a namorada, Nat, e Milly, um pouco entusiasmados demais. Já nesse primeiro contato, o roteiro de Nick Saltrese começa a derivar para um bem-elaborado minissuspense que se desenrola por inteiro algum tempo depois, já com o mote central em pleno curso. Tom, o casanova interpretado por Jack Trueman, parece amar Nat, a sofredora heroína de Holly Earl, mas se diverte muito mais com Milly, a melhor amiga de Nat, personagem de Catherine Hannay. Malachi Pullar-Latchman e Thomas Flynn não acham serventia maior que servir de bucha de canhão, servindo de mártires quando a situação sai de controle definitivamente.

Para que isso aconteça, o quinteto, no dia seguinte, volta à praia, ainda convalescendo da bebedeira da noite, avista dois jet skis ancorados no cais e têm a brilhante ideia de arrombar a cabine onde estão as chaves dos veículos e furtá-los. Todo mundo suspeita quanto ao que vai acontecer, mas Nunn, um mestre da tensão, segura a violência da narrativa por um tempo cartesianamente preciso e a libera de uma vez, numa carnificina gradual e aterradora. 

Em meio ao banho de sangue patrocinado pelo tubarão do título, o diretor encontra espaço para ajustar um estimulante triângulo amoroso, com direito a um rapidíssimo jogo de intrigas entre Nat, Milly, que tem a porção inferior merecidamente engolida pelo predador, e Tom, qus se sacrifica pela agora possível ex-namorada. O desfecho sem grandes pirotecnias é a fatia mais saborosa do bolo, com a vitória da heroína sobre seu algoz e suas tantas fileiras de dentes implacáveis.


Filme: Tubarão: Mar de Sangue
Direção: James Nunn
Ano: 2022
Gêneros: Terror/Drama
Nota: 9/10

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.