Foi difícil marcar uma entrevista com o Mercado Financeiro, mas consegui encaixar uma vaga em sua agenda depois de muito esforço. Ele marcou o nosso encontro em um restaurante caríssimo. Cheguei mais cedo e o esperei um tempo. O Mercado Financeiro apareceu com uns quinze minutos de atraso, falando no celular. Sentou e pediu o prato mais caro do cardápio. Não largou o telefone nem um minuto.
— Oi, Mercado, tudo bem? — Eu o cumprimentei.
— Não sei, está tudo bem? — O Mercado
Financeiro perguntou.
— Acho que sim… — Eu disse.
Ele gritou no celular para alguém do outro lado:
— Fiquei sabendo aqui com uma fonte que está tudo bem! Hora de vender. Vende!
— Calma! Foi uma pergunta retórica.
— Ah, tá. — O Mercado berrou de novo no celular: Não está tudo bem! Compra!
— Eu só queria te fazer umas perguntas, saber das suas opiniões. Andam dizendo que você está pensando em abandonar o barco.
— Por quê? O barco está afundando? — No celular: Vende as ações de empresas de navegação!
— Eu estou falando do barco do governo.
— O governo tem barco? Ele está comprando barcos? — No celular: Compra ações de empresas de navegação!
— Você não está entendendo. Eu quero saber se você ainda apoia o governo.
— Por quê? Os apoios estão em alta? O que é que apoia? Já sei! Estruturas metálicas! — No celular: Compra ações de empresas de estruturas metálicas!
— Eu só queria saber de você se essa radicalização geral dos dias atuais não te deixa nervoso?
— Sim, quem é que não fica? Aliás, você acabou de me dar uma boa ideia. — No celular: compra ações de empresas farmacêuticas! Os ansiolíticos vão bombar!
— Só uma pergunta para terminar: Você está preocupado com o futuro do país?
— Claro que sim! Você sabe alguma coisa sobre o futuro?
— Não sei de nada.
Ele gritou no celular:
— Tenho informações que o futuro é incerto!
Vende! Vende!
Ele ficou nervoso e saiu desabalado do restaurante. A conta, é claro, ficou comigo. O Mercado Financeiro sai sempre na alta!