A jornada real inacreditável retratada em filme da Netflix que pode dar Oscar para Annette Bening Liz Parkinson / Netflix

A jornada real inacreditável retratada em filme da Netflix que pode dar Oscar para Annette Bening

“Nyad” é um filmão. É mesmo. Não apenas porque é longo, o que também é verdade, mas porque Annette Bening e Jodie Foster estão incríveis nele. Dirigido por Jimmy Chin e Elizabeth Chai Vasarhely, o longa-metragem escrito por Julia Cox, com supervisão da própria Diana Nyad, narra a odisseia da nadadora e jornalista esportiva que durou 35 anos e cinco tentativas quase fatais de atravessar o oceano Atlântico a nado, da costa de Havana até a ilha de Key West, Florida, nos Estados Unidos. Mas o principal detalhe não posso ocultar. Ela tinha, quando finalmente concluiu o desafio, 64 anos.

Ao todo, Diana percorreu 177 quilômetros de mar, com toda sua salinidade, ventos pesados que tentavam-na levar para outras direções, criaturas marítimas letais, condições meteorológicas que pareciam sempre trabalhar contra ela, além, claro, dos limites do próprio corpo humano. Exaustão, vômitos, dores musculares intensas, hipotermia, alucinações e desidratação são alguns dos sintomas experimentados por ela durante os trajetos. Não fomos feitos para tamanha façanha. O recorde da Diana é sobre-humano, sobrenatural. Mas não é isso que os atletas são? Semideuses na Terra mostrando aos meros humanos seu pleno potencial?

Com diversos prêmios por nados a longa distância, Diana queria ir além. Apaixonada por Cuba, um lugar quase místico em sua imaginação, ela tomou como objetivo atravessar o mar que dividia os Estados Unidos e o país de suas fantasias antes mesmo dos 30 anos. Sua primeira tentativa não foi bem-sucedida e ela decidiu abandonar não apenas a empreitada como sua carreira de atleta.

Neste ínterim, Diana se tornou jornalista, escreveu quatro livros sobre sua atuação na natação, foi repórter no The New York Times, NPR, Newsweek, além de outros veículos. Ela também colaborou na CBS no programa Sunday Morning. Passados 30 anos, Diana entrou em crise existencial, o que é narrado no longa-metragem que leva seu sobrenome. Algo parecia faltar em sua vida. Sua melhor amiga e ex-companheira, Bonnie Stoll, chegou a tentar arrumar namoradas, incentivá-la a fazer terapia, encontrar algum hobbie. No entanto, o que atormentava Diana era sua consciência. Ela precisava superar suas limitações e cumprir o desafio imposto e aceito por ela própria de percorrer o mar entre os dois países a nado.

Aos 60 anos, então, ela definiu que iria retomar a empreitada. Convidou Stoll para ser sua treinadora. Ela era jogadora profissional de raquetebol. Elas conseguiram montar uma equipe especializada nos desafios que iriam enfrentar no caminho. O grupo seguiria Diana de um barco durante todo o percurso, a protegendo de animais, fornecendo alimentos e remédios, cronometrando seu tempo, guiando a rota e prestando todos os devidos atendimentos à nadadora. Ela havia decidido que, diferente de quando tinha 30 anos, agora ela não iria querer contar com uma gaiola, que deveria protegê-la de ataques de tubarões, águas-vivas e outras criaturas perigosas. Alguém da equipe teve a ideia de usar uma luz vermelha para afastar os animais que, apesar de eficaz, não deu certo 100% do tempo.

Diana fracassou da primeira, segunda, terceira, quarta tentativa. Em todas ela quase morreu no percurso e teve de ser resgatada por sua equipe. Stoll chegou a desistir de sua função, acreditando que Diana iria acabar morta. No entanto, sua saída não foi suficiente para fazê-la desanimar. Foram mais cinco anos de treinamentos e novos esforços, até que, finalmente, aos 64, em 2013, ela conseguiu terminar o incrível e supostamente invencível trajeto.

Há uma energia muito real entre as atuações de Bening e Foster, que nos transporta muito intensamente para dentro da história. Angústia, agonia, medo e alívio são algumas das sensações que experimentamos ao viver a experiência de Diana nas telas. Cotada para o Oscar, Bening está sensacional em seu papel. Tecnicamente perfeito, “Nyad” merece ser apreciado.


Filme: Nyad
Direção: Jimmy Chin e Elizabeth Chai Vasarhely
Ano: 2023
Gênero: Biografia / Aventura
Nota: 9/10

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.