No princípio dos tempos, a solidão era a grande companheira do homem. Muitas eras depois, com o alvorecer da evolução dos seres, suas formas e sentidos, a comunicação tornou-se sua consorte, estabelecendo um modus vivendi do qual jamais viria a se divorciar. Gestos, gritos, posturas e grunhidos foram supostamente os primeiros recursos usados. Com a adoção e o aprimoramento de novas técnicas, o desenvolvimento de objetos e símbolos facilitou sobremaneira a troca de informações.
Em 1838, Samuel Morse criou o famoso Código Morse, importante meio de comunicação à distância. De lá para cá, tendo como referências Martin Cooper, Steve Jobs, Bill Gates, Mark Zuckerberg, dentre outros, chegamos finalmente à era das mensagens instantâneas. Bem-vindo aos novos tempos, dominados pelo fenômeno WhatsApp!
No planeta azul, o aplicativo conta com mais de um bilhão de usuários ativos, que enviam e recebem diariamente mais de 50 bilhões de mensagens (número este em rota ascendente). Hoje, o simples envio de uma delas pode resolver um sem-número de problemas. Citando apenas o meio corporativo: empresas, hospitais e escritórios se conectam pelo WhatsApp, criam grupos no intuito de repassar informações, cobrar metas etc., por meio de um único envio para todos.
Amado, odiado ou temido, não há dúvida de que ele revolucionou a comunicação global. É só olhar para o lado e verá alguém com um smartphone grudado na mão por uma cola invisível que também lhe prende o par de olhos. Já os dedos… Descontrolados como uma criança em sua primeira vez na Disneylandia. Entretanto, essa troca de mensagens — faladas e escritas — em tempo real, pode substituir integralmente a presença física? Ou ainda, o que lhe pareceria mais desesperador: perder um encontro com a última Coca-Cola do deserto ou esquecer o celular em casa? Seja sincero!
De fato, a tecnologia criou diversas maneiras de nos auxiliar nos processos de comunicação, conferindo comodidade e agilidade, seja no âmbito pessoal ou profissional. Mas, ressalta-se que jamais vão substituir qualquer contato presencial ou o afeto que só a proximidade física pode proporcionar. Aliás, afeto requer zelo, carinho, proteção. É um amor experimentado entre pessoas, ou seja, sentimentos que não podem ser expressos unicamente por sinais gráficos e sonoros cutucando nossos sentidos, numa tela de cristal que pode se quebrar ao primeiro crash test.
Ora, a vida, o smartphone, o “zapi zapi” e tudo o mais cada um tem o seu, OK? E faz o que quer e se comunica como quiser. Porém, o que não consigo entender é: como dois “risquinhos azuis” (destinatário leu a mensagem) podem deixar algumas pessoas mais felizes e às vezes excitadas do que o contato olho no olho? Facilidade, comodidade? Acredito que sim. Mas vai um alerta: essa facilidade e comodidade têm contribuído para que o convívio (pessoal e social) seja deixado de lado. Infelizmente, não estamos longe de concluir que esse domínio digital chegou para limitar a intimidade e até a convivência familiar.
Estamos nos tornando instantâneos demais, superficiais demais. Seguir esse caminho faz com que percamos a graça de ser essencialmente humanos, que deixemos de valorizar o tempo com aqueles que, para nós, devem ser o mais importante.
Amor, lembranças, ternura podem ser escritos e enviados digitalmente, por que não? Nada de errado isso. O que não se pode acreditar como certo é querer substituir o estar presente pela virtualidade, porquanto nenhuma invenção tecnológica é mais afetiva do que o toque, o som da voz humana, os laços humanos fortalecidos dia após dia. Olhar pro lado e ver alguém de carne e osso, com as mãos livres e os dedos sob controle, apontando para o céu, os pássaros e as estrelas, como que dizendo: Tudo isso só faz sentido porque você está aqui!