Drama avassalador que acaba de chegar na Netflix vai despedaçar seu coração Divulgação / Netflix

Drama avassalador que acaba de chegar na Netflix vai despedaçar seu coração

Misan Harriman é um fotógrafo nigeriano que decidiu se aventurar no cinema em seu primeiro curta-metragem, o comovente “E Depois?”, que se desenvolve em apenas 18 minutos. A pandemia de Covid-19 nos despertou de um de nossos maiores temores: o de perder pessoas queridas. Mas o colapso sanitário mundial que trouxe perdas inestimáveis materiais e imateriais também fez com que a humanidade aprendesse a se reerguer de um abismo. E foi a pandemia que provocou todos esses sentimentos em Harriman e despertou nele o desejo de realizar este filme.

O enredo gira em torno de Dayo, interpretado de forma tão magistral e feroz pelo experiente David Oyelowo. Ele é um executivo que está em um dia comum e despretencioso com sua família em Londres. Caminhando por calçadas e escadas com sua adorável filha Laura (Amelie Dokubo), ele decide ligar para o trabalho para cancelar uma reunião, pois pretende assistir uma apresentação de dança da filha com sua esposa, Amanda (Jessica Plummer).

Há uma notável melancolia na expressão de Dayo, que sente que precisa aproveitar mais tempo com sua família. É como se uma angústia urgente emergisse em seu peito o avisando de uma iminente perda. Logo pai e filha encontram a mãe, que é avisada com empolgação pela garotinha de que Dayo decidiu ficar para ver sua apresentação.

O telefone do pai toca e ele vira de costas para atender a ligação. Em questão de segundos, mãe e filha são atacadas a facadas por um homem encapuzado, que surge do nada no meio da rua. Harriman não explora os motivos que levaram o homem a cometer tais atrocidades. Seria motivado por racismo? Um ataque aleatório como tantos outros que são noticiados na televisão? Não sabemos. Mas não são os motivos o verdadeiro foco de Harriman, que quer apenas representar a tragédia e a perda repentina com a aparição violenta desse ceifador. Afinal, a vida é imprevisível. Uma doença, um acidente, um crime raramente são vaticinados. Assim como foi a pandemia de Covid-19, uma catástrofe global que tirou inúmeros pais, mães e filhos de suas famílias.

O filme dá um pequeno salto no tempo para nos mostrar Dayo se recuperando de sua perda. Não mais um executivo, mas um homem recomeçando a vida como motorista de táxi, ele vai e vem com estranhos sentados no banco traseiro de seu carro. Silencioso e pensativo, ele escuta as conversas dos passageiros e, vez ou outra, se depara com histórias que trazem à tona lembranças de Amanda e Laura.

Ele é um homem de coração partido, que perambula pela cidade como corpo sem alma. A perda o tornou tão vazio quanto infeliz. Ele sequer tenta procurar sentido para sua existência depois de sua trágica perda. Ele apenas dirige.

Até que um dia, ele pega uma família no aeroporto. Stewart (Sule Rimi), Rebecca (Ellen Francis) e Amy (Tara-Binta Collins) entram em seu carro e se sentam no banco traseiro. Enquanto os pais Stewart e Rebecca começam a discutir por conta de suas responsabilidades, Amy, a filha, sentada entre o casal, escuta calada com o semblante cansado. Possivelmente, ela tem ouvido a briga dos pais com certa frequência. Sua semelhança física com a pequena Laura imediatamente captura a atenção de Dayo.

Durante os minutos em que dividem o mesmo carro, Amy e Dayo parecem se conectar emocionalmente de forma quase transcendental. Quando chegam ao destino, a menina resiste em sair do carro. Enquanto isso, a discussão dos pais continua na frente da residência. Amy abraça Dayo e o gesto é recebido com confusão e medo pelos pais da garota, que imediatamente a afastam dele e a levam para dentro de casa. Dayo desaba em lágrimas, nos impactando como um raio. A atuação generosa, sensível e envolvente de Oyelowo é simplesmente um presente dentro dessa trama de partir o coração. A fotografia de Si Bell, com seus tons quentes e brilhosos reforçam ainda mais o tom dramático do filme.


Filme: E Depois?
Direção: Misan Harriman
Ano: 2023
Gênero: Drama
Nota: 8/10

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.