A teoria da relatividade, delineada por Albert Einstein em 1905, introduziu a noção da flexibilidade temporal, onde as leis da física permanecem inalteradas em todos os referenciais inerciais, ou seja, pontos de partida para alcançar diferentes destinos no vasto universo. A velocidade da luz, nesse contexto, transcende as influências da fonte emissora e do observador, mantendo uma constância de frequência em todos os sistemas inerciais.
É nesse cenário de elástica relatividade que Oriol Paulo, diretor talentoso, nos presenteia com “Durante a Tormenta”, uma ficção científica cativante e única em sua narrativa cinematográfica. O filme se desenrola em um turbilhão temporal, quando uma tempestade, ocorrendo simultaneamente em 1989 e 25 anos à frente, em 2014, serve como ponto de partida. 1989, o ano da queda do Muro de Berlim, um acontecimento histórico que simboliza o fim de uma era, marcando o colapso do século 20 e o início de uma nova era.
A queda do Muro de Berlim é imortalizada em nossa memória como um dos eventos mais significativos da história. Em “Durante a Tormenta”, Oriol Paulo usa essa referência para situar os espectadores no contexto da trama. A tempestade, um elemento central, é testemunhada através dos olhos de Nico, uma criança, enquanto ele dedilha acordes na guitarra e grava a cena com uma filmadora VHS. O tumulto que ecoa em uma casa próxima interrompe seu jogo, levando-o a presenciar um crime chocante. Nico foge atormentado e encontra seu destino sob as rodas de um caminhão.
Um quarto de século depois, o tempo, mais uma vez, demonstra sua maleabilidade. Vera, David e sua filha Gloria passam a residir na mesma casa que um dia pertenceu a Nico. Vera descobre a filmadora e a televisão antiga que pertenceram ao garoto, e através de uma série de eventos inexplicáveis, ela consegue estabelecer uma conexão com Nico, separado por duas décadas e meia. Essa ação aparentemente ética de Vera tem consequências imprevistas, desencadeando o chamado ‘efeito borboleta’, no qual uma ação desencadeia uma série de eventos imprevisíveis que podem não ter relação direta com a ação inicial.
A narrativa de Oriol Paulo desafia a noção de viagem no tempo, usando-a como uma metáfora para a desconstrução das certezas da vida. O filme leva os espectadores a acreditar que foram transportados para uma realidade alternativa juntamente com a protagonista. Vera, deslocada e exilada em uma vida que não é a sua, busca desesperadamente recuperar sua própria história. No entanto, ela só conseguirá isso se conseguir convencer as pessoas ao seu redor da verdade por trás de sua experiência extraordinária.
“Durante a Tormenta” é uma jornada intrigante repleta de reviravoltas, apresentada de forma acessível, permitindo que cada personagem seja absorvido de maneira profunda. Oriol Paulo cria um jogo fascinante com o público, torcendo a trama de acordo com sua vontade, espelhando a incerteza intrínseca à vida. Com este filme, o diretor reforça sua obsessão em explorar as complexidades do tempo, assim como fez.
Filme: Durante a Tormenta
Direção: Oriol Paulo
Ano: 2018
Gênero: Suspense/Drama/Ficção Científica
Nota: 9/10