Um vídeo no Facebook despertou minha atenção: no metrô, um grupo filmou o amigo cedendo o lugar para uma idosa. Até aí, tudo bem — mesmo sendo um direito da senhora, não custa nada ser gentil. Porém, ao final do vídeo, o bom samaritano vai ao encontro dos amigos e é recebido com festa. Seu gesto foi celebrado como um feito heroico!
Se eu estiver errado, por favor, me corrijam, mas desde quando ser educado, ser gentil se transformou em ato nobre, digno de plateia e aplausos? Ser educado e gentil é, no mínimo, uma obrigação do ser humano.
Infelizmente, estamos vivendo em um mundo raso. Devido à carência generalizada, muitas pessoas necessitam cada vez mais da aprovação alheia para se sentir bem. Os aplausos, os elogios e a admiração nos dão enorme sensação de prazer. Consequentemente, gestos que, até então, eram considerados simples, estão sendo banalizados.
Cobramos de políticos e autoridades, saímos às ruas sedentos por justiça. Destacamos que queremos um país melhor, porém nossas atitudes são artificiais: o exibicionismo continua o mesmo. Educação, gentileza, solidariedade e gratidão são virtudes do nosso caráter; compartilhá–las deveria ser um gesto espontâneo, único, sem a necessidade de ser viralizado por meio de vídeos ou fotos. Aliás, desde quando atos solidários precisam de propaganda?
Exemplos não faltam. Independentemente da religião ou credo, grandes líderes se preocupavam mais com a resolução de problemas coletivos do que apenas dos individuais. Dispensavam o olhar alheio. Fama, fortuna e poder pouco lhes importavam. Preferiam o anonimato a cem anos de aplausos.
Não nascemos sujeitos morais, tampouco, cidadãos, mas devemos nos tornar sujeitos morais e sermos educados para a cidadania. Isto é, refletir sobre os nossos valores ajuda a nos tornarmos melhores.
Ora, em um mundo no qual as aparências e a competividade são exaltadas como valores supremos, como esperar que nossos líderes — ou nós mesmos —, pratiquem a educação, a gentileza, a solidariedade? A resposta não é simples. Entretanto, os maiores exemplos estão aí para ser seguidos, não apenas para ser citados. O egoísmo ainda é uma tendência acoplada a nós. O altruísmo, por outro lado, é uma cultura a ser cultivada.
Gestos banais não podem ser vistos como um luxo, ou seja, dar o lugar a uma velhinha não tornar você um bom samaritano!