Imersos em cenários naturais deslumbrantes, somos transportados por jardins de refinada beleza e construções medievais que exalam um charme antigo, construídos com a robustez dos tijolos e a solidez das pedras na narrativa de “Sr. Sherlock Holmes”. Sob a direção precisa de Bill Condon, Ian McKellen revive o detetive icônico, não na plenitude de sua astúcia, mas na vulnerabilidade de seus anos derradeiros, em 1947, num mundo tentando cicatrizar suas feridas de guerra.
Encontramos um Holmes que batalha contra a erosão do tempo, sua mente outrora infalível agora assombrada por lacunas. Determinado a não ceder, ele se embrenha nas névoas de um enigma de três décadas, buscando clareza entre ecos e sombras do passado, enquanto se recolhe em uma residência campestre em Sussex. Ali, compartilha sua existência reclusa com sua governanta devotada, interpretada por Laura Linney, e o jovem curioso Milo Parker, infundindo na trama uma dinâmica familiar inesperada.
Confrontado com a ausência do irmão Mycroft e do fiel Watson, Holmes se dedica à apicultura, transmitindo seu conhecimento ao jovem aprendiz, numa metáfora sutil de preservação de legado. Entretanto, é a correspondência com um amigo distante no Japão, papel de Hiroyuki Sanada, que reacende antigos demônios, entrelaçando remorso e redenção em sua psique. Paralelamente, um fragmento de humanidade é revisitado através de uma memória pulsante: um encontro transitório, porém impactante, com uma mãe (Hattie Morahan) cuja dor pela perda irreparável ressoa no próprio Holmes, espelhando sua fragilidade camuflada.
A narrativa, um emaranhado delicado tecido a partir do romance de Mitch Cullin, serve como um epílogo contemplativo às aventuras eletrizantes de Holmes imortalizadas por Arthur Conan Doyle e reinterpretadas vigorosamente por Guy Richie, entre outros visionários. McKellen, com maestria, despe o detetive de sua inabalável armadura lógica, revelando um homem marcado pela incerteza e anseio. É uma performance que transita com fluidez entre a firmeza e a falha, capturando corações ao desvelar camadas de um gênio agora permeado pela dúvida.
Tobias A. Schliessler infunde arte na fotografia, com imagens que dialogam com a transparência da inocência e a ternura da experiência, enquanto a composição de Carter Burwell acaricia nossas sensações, preparando-nos para a profundidade do impacto emocional. O ápice da história, embora não revolucionário, desarma-nos, pois difere das tramas repletas de adrenalina, comumente associadas a Holmes. “Sr. Sherlock Holmes” é uma viagem introspectiva, despidos dos artifícios do suspense tradicional, guiando-nos pelos corredores sombrios da mente de quem foi, talvez, o mais perspicaz dos investigadores, mostrando que, por trás da lenda, há um coração que também teme e anseia.
Filme: Sr. Sherlock Holmes
Direção: Bill Condon
Ano: 2015
Gênero: Mistério / Drama
Nota: 10/10