Filme brutal na Netflix narra um dos crimes mais chocantes da Itália no século 20 Picomedia / Warner Bros

Filme brutal na Netflix narra um dos crimes mais chocantes da Itália no século 20

Num prestigiado internato católico para rapazes de classe média, aninhado num bairro residencial romano, os princípios éticos e morais revelam-se nebulosos, defasados. O enredo do filme “Garotos de Bem”, orquestrado por Edoardo Albinati, Massimo Gaudioso e Luca Infascelli, nos transporta seis meses atrás no tempo para recompor a série de acontecimentos que culminou na fatídica noite onde duas jovens foram vítimas de abuso sexual seguido de assassinato.

A adolescência desencadeia uma torrente de emoções complexas na mente humana, desde o temor da rejeição até à insegurança em relação à aparência, à ansiedade acerca do porvir e à busca da liberdade e independência. Neste período, muitos reinventam as suas identidades para conquistar aceitação e, eventualmente, se perdem de si próprios. Quando não há alicerces familiares sólidos, carinho, respeito e modelos de conduta, é improvável que estes adolescentes se tornem adultos exemplares.

Num determinado ponto de “Garotos de Bem”, um personagem partilha o segredo da educação do seu grupo: permitir a expressão da violência para evitar que a raiva se acumule, ou então correriam o risco de se tornar fascistas. A verdade é que, nesse momento, já o são. Quando rapazes adolescentes, privilegiados e protegidos por famílias abastadas repletas de segredos sombrios percebem que têm carta branca para cometer qualquer ato, agem sem hesitação, unicamente porque podem.

A narrativa se desenrola em 1975, mas poderia igualmente acontecer nos dias de hoje, dada a escassa evolução social, especialmente no que diz respeito à criação e educação de indivíduos misóginos. Os jovens daquela escola manifestavam simpatia por Adolf Hitler, tinham indícios de perturbações psicológicas e absoluta falta de respeito pelas mulheres, inclusive por suas próprias mães — parceiras traídas, maltratadas e exploradas, que viviam sob o verniz atrativo da alta sociedade.

“O Massacre do Circeo”, um filme dirigido por Stefano Mordini e inspirado no romance homônimo de Edoardo Albinati, retrata o quotidiano daquele grupo de adolescentes dos quais emergem Angelo Izzo (Luca Vergoni), Andrea Ghira (Giulio Pranno) e Gianni Guido (Francesco Cavallo). Decidem enganar e raptar as jovens Rosaria (Federica Torchetti) e Donatella (Benedetta Porcaroli).

Sob falsos pretextos, as duas amigas são conduzidas a uma casa de campo numa localidade costeira nos arredores de Roma, onde são submetidas a repetidas sessões de tortura e violação. Uma delas sobrevive simulando estar morta, enquanto a outra conhece um destino mais trágico. Os perpetradores são detidos e condenados à prisão perpétua, mas acabam por ser libertados alguns anos mais tarde. Este desfecho suscita a reflexão sobre a objetificação e banalização dos corpos e vidas das mulheres, perpetuadas tanto por homens como pelo próprio Estado.

Uma narrativa chocante que, infelizmente, não proporciona lições substanciais ao mundo, o “Garotos de Bem” representa mais um capítulo na série de derrotas das mulheres numa sociedade ainda dominada pelos homens.


Filme: Garotos de Bem
Direção: Stefano Mordini
Ano: 2021
Gênero: Drama
Nota: 8/10