Alguma vez você já se perguntou o que faria se pudesse reviver o mesmo dia várias vezes? Todos os erros poderiam ser corrigidos, todos os arrependimentos poderiam ser reparados e sempre haveria uma segunda chance para tudo. Essa é a realidade de Mark (Kyle Allen), um adolescente que revive o mesmo dia todos os dias, em “O Mapa das Pequenas Coisas Perfeitas”.
Depois de vivê-lo tantas vezes, Mark já tem cada detalhe do seu dia milimetricamente calculado e decorado. Preso no loop temporal, ele busca formas criativas de se distrair, como ajudar as pessoas a resolver problemas cotidianos ou até conhecer uma nova garota.
Tudo muda quando ele conhece Margaret (Kathryn Newton), uma garota que também está vivendo uma anomalia temporal. Mark finalmente se sente compreendido ao conhecer alguém que sabe exatamente o que ele está passando. Ao longo do tempo, Mark e Margaret vão se aproximando e constroem uma bela amizade.
A amizade de Mark e Margaret torna-se muito importante, uma vez que, enquanto todos estão presos no mesmo dia, repetindo a mesma rotina centenas de vezes sem ter consciência disso, eles são os únicos que sabem o que está acontecendo e conseguem se lembrar do que aconteceu no dia anterior. É como se todos estivessem sonhando e só eles estivessem acordados.
O enredo ganha mais profundidade quando os personagens passam a questionar suas vidas. Nada parece ter sentido quando sabemos que tudo recomeçará no dia seguinte. Todos os momentos, ações e pensamentos parecem efêmeros, sabendo que serão perdidos ao fim do dia.
Os dois tornam-se inseparáveis e passam a se encontrar todos os dias, experimentando novas situações dentro da realidade do loop temporal. Assim, decidem visitar diversos lugares da cidade, fazendo tudo que sempre quiseram, e criam um mapa com todas as pequenas coisas perfeitas que descobrem e vivenciam. Eles andam de skate, visitam parques locais, conhecem restaurantes e apreciam a natureza. E, assim, começam a perceber que em meio ao estresse da vida cotidiana, a vantagem do loop temporal é poder valorizar cada instante, encontrando prazer nas aleatoriedades da vida e apreciando as pequenas coisas.
Tudo parece mais belo quando observam os detalhes das pessoas e da natureza. Em uma montagem com belas sequências e uma trilha sonora envolvente, somos apresentados a todas as descobertas que fizeram ao longo desse tempo, e tudo parece perfeito. Mark se aproxima de sua irmã e de seu pai, a vida parece ter mais sentido, e a repetição contínua começa a se tornar mais suave e prazerosa.
Mesmo quando tudo parece estar bem, os personagens começam a questionar a atual conjuntura e decidem encontrar uma forma de quebrar o loop temporal. Apesar de Mark estar decidido a sair dessa realidade, Margaret está confortável com a situação e não deseja romper a anomalia. A personagem, que se sentiu estranha a vida inteira, agora vê-se especial por ser uma das poucas pessoas com esse poder. E, de certo modo, sente-se superior às demais pessoas por possuir conhecimentos que ninguém mais tem.
Após conversarem, Mark convence Margaret a quebrar o loop e busca ajuda com seu professor de álgebra para estudar a melhor maneira de romper a anomalia. Em sequência, decidem comprar uma passagem de avião para o Japão, na esperança de que, ao atravessar o Meridiano de Greenwich, consigam retomar suas vidas normais. Porém, antes da decolagem, Margaret diz que vai ao banheiro, mas na verdade desiste da viagem e deixa o avião. Mark viaja sozinho.
Após esse momento, Mark acorda em sua cama, revivendo mais uma vez o mesmo dia, percebendo que sua missão falhou. Contudo, algo que intriga Mark há um tempo é que Margaret sempre precisa partir de seus encontros no mesmo horário, alegando ter um compromisso com um amigo. Em uma visita ao hospital, Mark descobre o motivo dos sumiços de Margaret: ela visita sua mãe, que está internada devido a um câncer.
Mark passa a compreender toda a motivação de Margaret. Durante todo esse tempo, ela apenas queria poder ficar junto de sua mãe o máximo possível. Quando percebemos que Margaret está vivendo um dos momentos mais difíceis de sua vida, tudo se encaixa. Qualquer pessoa em seu lugar também desejaria que o tempo parasse.
No entanto, mesmo vivendo o momento mais doloroso de sua vida e enfrentando a possibilidade de perder a pessoa que mais ama, Margaret toma a ação mais generosa e altruísta que alguém poderia ter. Ela se despede de sua mãe e decide dar uma nova chance à vida, colocando um fim na anomalia temporal. Então, ela vai até sua casa e revisita o mapa das pequenas coisas perfeitas. Ao analisá-lo, percebe que ainda falta um momento perfeito para completá-lo e quebrar o loop temporal. Dessa forma, ela busca Mark, os dois conversam, se reconciliam e se beijam. Ao se beijarem, conseguem finalizar o mapa com o último momento perfeito e desfazer a anomalia temporal.
A verdade é que o filme não é apenas uma comédia romântica sobre um casal apaixonado. É um filme jovem, mas extremamente reflexivo. Com questionamentos, ponderações filosóficas e existenciais, e ainda toques de ficção científica, o longa se desvenda como uma história surpreendente e envolvente. A narrativa é sobre valorizar os momentos da vida, não querer acelerar o tempo nem o desejar parado, apreciar quem está ao nosso lado, e, principalmente, compreender o verdadeiro sentido da vida e viver cada segundo como se fosse o último.
De fato, senti-me tocada ao concluir esse filme. Com uma atmosfera que lembra as clássicas sessões da tarde, trilhas sonoras cativantes e uma montagem fluida e inspiradora, “O Mapa das Pequenas Coisas Perfeitas” aquecerá seu coração e proporcionará conforto à sua alma. Uma obra pouco reconhecida, mas que merece ser vista e apreciada por todos.
Filme: O Mapa das Pequenas Coisas Perfeitas
Direção: Ian Samuels
Ano: 2021
Gêneros: Romance/Ficção Científica
Nota: 10/10