A obra-prima do cinema europeu que você desconhecia na Netflix Divulgação / A2 Filmes

A obra-prima do cinema europeu que você desconhecia na Netflix

Inspirado nos thrillers de tribunal hollywoodianos, “O Caso Collini” é  um filme alemão dirigido por Marco Kreuzpaintner. O filme foi adaptado por Christian Zübert, Robert Gold e Jens-Frederik Otto  do romance de Ferdinand von Schirach. A história é baseada livremente na morte de Friedrich Engel , um oficial nazista envolvido no massacre de italianos durante a Segunda Guerra Mundial. No filme, ambientado em 2001, Hans Meyer é um banqueiro influente, que acaba morto em um quarto de hotel. Seu assassino é conhecido um homem chamado Fabrizio Collini (Franco Nero).

Encarregado de representar Collini no tribunal, o defensor público Caspar Leinen (Elyas M’Barek) é um jovem advogado que não tem nenhuma defesa oral em sua carreira. Ele, além de ter sido criado dentro da casa de Hans Meyer, tem um caso com a neta do banqueiro, Johanna (Alexandra Maria Lara). O fato de ele representar o réu, sem que haja conflito de interesses, já demonstra o enorme descaso do Estado com Collini, deixando claro que a Justiça não o deixará passar ileso de seu crime.

Mesmo assim, Casper assume com seriedade e responsabilidade moral o caso e quer se manter afastado emocionalmente dos fatos. Até mesmo, porque o assassinato teve enorme repercussão na imprensa e poderá definir seu futuro na profissão.  Em sua missão, o jovem defensor encontra dois grandes desafios: o primeiro deles é que Collini se nega a falar. Ele não emite nenhuma declaração sequer sobre o ocorrido. Então, Casper precisa escavar o passado para descobrir a motivação do crime sozinho, investigando as histórias de ambos os homens. O segundo desafio é que o promotor do caso é Richard Mattinger (Heiner Lauterbach), que foi professor de Casper e que usa sua inexperiência para desqualificá-lo no tribunal.

O filme se desenrola em torno das apurações de Casper em torno da história da vítima e do réu. O espectador vai desvendando o mistério em torno do crime junto com o advogado. O público é levado em uma viagem histórica ao passado nazista na Alemanha para descobrir que Collini e Meyer já haviam se encontrado antes em um momento fatídico de suas vidas.

Diretor de “Tempestade de Verão”, “Tráfico, Bem-vindo à América”, Marco Kreuzpaintner tem construído uma carreira de respeito, com obras que têm sido aclamadas pela crítica. Em “O Caso Collini”, ele traz um mistério requintado, que se arrasta com calma e complexidade para construir engenhosamente sua história. Assim como no romance de Ferdinand von Schirach, o filme tem uma linguagem pouco emotiva, bastante pragmática e preocupada em adentrar no emaranhado burocrático por trás do caso judicial, trazendo bastante realismo e autenticidade. As cenas de flashback são as que carregam maior dramaticidade, conseguindo trazer uma espécie de equilíbrio e respeito pelas vítimas reais dos nazistas.

Tanto o livro quanto o filme parte da premissa “vergangenheitsbewältigung”, uma expressão em alemão sobre lidar, compreender, aprender e se reconciliar com seu passado histórico. O avô de Schirach era um dos chefes de gabinete de Hitler, então escrever sobre isso é uma forma de assumir sua própria fatia de responsabilidade, já que sua própria família esteve envolvida em um dos processos mais cruéis da humanidade.


Filme: O Caso Collini
Direção: Marco Kreuzpaintner
Ano: 2019
Gênero: Policial/Drama/Suspense
Nota: 10

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.