O melhor filme da Netflix: vale cada segundo do seu tempo, mas é provável que você ainda não o tenha assistido Divulgação / Sony Pictures

O melhor filme da Netflix: vale cada segundo do seu tempo, mas é provável que você ainda não o tenha assistido

Ao percorrer os intricados corredores de nossas paixões e interesses, inevitavelmente, nos encontramos atraídos por determinados temas ou expressões artísticas que transcendem a mera casualidade.

Em “Mães Paralelas”, Pedro Almodóvar retoma sua emblemática jornada ao mundo das emoções maternas com uma perspectiva renovada. O título, embora possa sugerir familiaridade, convida, na verdade, para uma profunda introspecção. Neste projeto, Penélope Cruz, a atriz que firmou uma colaboração estelar com o diretor ao longo das últimas duas décadas e meia, emerge como uma força da natureza. Ela canaliza a essência do cinema almodovariano com uma paixão e intensidade que poucas poderiam replicar, personificando a visão do cineasta com fervor e graciosidade, igualando-se a talentos anteriores como Cecilia Roth e Marisa Paredes.

Em “Mães Paralelas”, a marca registrada de Almodóvar é tecida de maneira tão sutil e precisa que cada sequência parece fluir organicamente, refletindo os dilemas humanos com uma clareza rara. Dissecando o sofrimento e os desafios de duas mulheres interligadas, ele ressalta temas universais de direitos e autonomia feminina. Sua trajetória cinematográfica demonstra uma capacidade notável de iluminar dramas comuns com um toque universal, e aqui ele nos presenteia com uma narrativa temperada com realismo e emoção genuína, algo que seus atores, e particularmente suas atrizes, elevam magistralmente.

Janis, interpretada por Cruz, vive a dualidade da modernidade: uma carreira acelerada como fotógrafa em Madrid e o crescente desejo de maternidade. Um encontro fortuito com Arturo, vivido por Israel Elejalde, desencadeia uma série de eventos que culminam na maternidade compartilhada com Ana, uma jovem mãe. Milena Smit, com sua abordagem quase casual para o papel, cria um contraponto interessante, estabelecendo uma dinâmica rica com Cruz. A forma como essas duas mulheres se cruzam, aparentemente por acaso, torna-se a chave para a evolução do enredo, proporcionando uma montanha-russa emocional que Almodóvar orquestra com habilidade.

Ao mesmo tempo em que “Mães Paralelas” se equilibra em sua narrativa centrada nas emoções, Almodóvar também busca tocar em questões mais amplas, como as feridas não cicatrizadas da Guerra Civil Espanhola. Embora a inclusão desse elemento histórico possa parecer um mero pano de fundo, ele serve para reforçar o tom de introspecção e reflexão do filme. O peso da história e o desejo de encontrar respostas ecoam nas vidas de Janis e Ana, ligando gerações e traçando paralelos inesperados.

Almodóvar, fiel ao seu estilo inimitável, cria uma trama cinematográfica em “Mães Paralelas” que entrelaça elementos clássicos e contemporâneos. A paleta vibrante e as escolhas estéticas, cortesia do diretor de fotografia José Luis Alcaine, servem para realçar a complexidade da narrativa. Com um final que provoca reflexões sobre a efemeridade da vida e a perpetuidade da memória, Almodóvar nos lembra da importância dos laços que formamos, seja com aqueles que nos precederam ou com os que virão depois de nós.


Filme: Mães Paralelas
Direção: Pedro Almodóvar
Ano: 2021
Gênero: Drama/Comédia/Suspense
Nota: 9/10