Escrevo a poucos dias do lançamento do primeiro álbum de Anette Camargo, “Cirandá”, programado para a primeira semana de outubro. Sei que o correto seria aguardar o disco sair, escutar todas as faixas, analisar as composições, refletir sobre os arranjos. Mas o que eu tenho a dizer sobre Anette não suporta esperas nem carece de confirmações. Meu amor pela arte dessa pianista, cantora, compositora e arranjadora brasileira me permite arriscar sem medo de estar enganado: não ouvi o disco e já gostei!
Por enquanto, conheço do trabalho de Anette nada além de duas composições solitárias disponíveis no Spotify e de suas muitas apresentações que ela mesma torna públicas em suas redes sociais. É o suficiente. Anette me emociona e suas canções me fazem sentir alegria. À espera de seu disco, eu me sinto de novo como o garoto que no final dos anos oitenta usou a metade de seu primeiro salário de office boy para fazer uma assinatura da antiga revista Bizz, uma célebre publicação de música que me enchia de entusiasmo pela vida!
Anette canta mirando o céu e toca seu piano como quem vai salvar o mundo aqui embaixo. E eu acho mesmo que ela vai. Ela canta suas canções para acordar o que há de mais bonito dentro e fora de quem a escuta. E consegue.
Neste mundo apinhado de tristezas, há de haver sempre uma beleza espremida entre um horror e outro, feito plantinhas que escapam nos vãos dos paralelepípedos. Feito a vida que se impõe potente em sua vocação de eternidade. Anette representa essa porção bonita da existência. Sua arte resiste poderosa e bela. E nos ajuda a resistir também.
Sei que “Cirandá” será um disco de oito faixas, todas compostas e arranjadas por ela, e que algumas são cantadas, outras são instrumentais. Li também que o álbum terá homenagens a Milton Nascimento, Gilberto Gil e Tom Jobim, e referências a outras pessoas e lugares importantes na vida de Anette. Tal como fazem os artistas de alma boa, imensa e profunda, agradecidos por tudo aquilo que os ajudou a existir.
Por ora, nada mais tenho a dizer sobre “Cirandá”, o primeiro álbum de Anette Camargo. Exceto que espero ansioso por sua chegada esta semana, como toda gente carecida de belezas.
E que a entrega generosa de uma artista rara como Anette, em um país difícil como o Brasil, persista e repercuta em saúde e fortuna para ela e os músicos que a acompanham. Que sua alegria seja sempre imensa e exuberante e seu coração bonito esteja sempre protegido de amor. Sabe bem ela dos apuros e apertos que a esperam, das sinucas, provações e agruras que sempre acometeram a vida de um trabalhador, sobretudo daquele cuja lida é esse ofício estranho de fazer arte. Ela sabe, como também não há de esquecer o quanto sua música é maior do que isso tudo.
Que ela prossiga com força e leveza no sublime ofício de tocar seu piano como quem vai salvar o mundo. Porque ela vai mesmo. E que ela cante suas canções para acordar o que há de mais bonito dentro e fora de quem a escuta. Ela consegue. Anette sempre haverá de conseguir.