O romance mais belo da história do cinema está no Prime Video Divulgação / Castle Rock Entertainment

O romance mais belo da história do cinema está no Prime Video

Com uma premissa simples, o romance “Antes do Amanhecer”, de Richard Linklater, conquista-nos gradativamente e encanta com sua beleza, que se desenvolve na delicadeza e na simplicidade do roteiro, da direção e das interpretações.

A trama narra a história de dois jovens que se conhecem em um trem a caminho de Viena, na Áustria. Celine (Julie Delpy) e Jesse (Ethan Hawke) vêm de mundos diferentes, mas têm muito em comum. A jovem francesa, amante de literatura e arte, aspira viver de sua escrita. Jesse, por sua vez, é um americano divertido e mulherengo que deseja conhecer o mundo e viver experiências únicas.

Ele, tão interessado nela, convence-a a descer do trem em Viena com ele. Durante a viagem, começam a conversar e a se conhecer melhor. Contudo, há algo que impede que o relacionamento prospere: a distância. O casal terá de se separar ao amanhecer, já que Celine está a caminho de Paris, e Jesse, de Nova York.

Uma paixão fulminante e intensa floresce entre eles, cheia de sonhos e desejos de explorar o mundo ao máximo. Assim como a juventude, o filme também é visceral e intenso, com o sentimento de ansiedade em realizar todas as vontades traduzido por uma montagem invisível, representada por um longo plano-sequência.

O longa não tem respiros. Não há cortes, intervalos ou silêncios. Os diálogos preenchem todo o enredo, que se torna rico e profundo pela bela interpretação dos atores e pelo texto primoroso, recheado de reflexões filosóficas e questionamentos sobre religião, criação, morte, relacionamentos, valores e até a própria existência humana.

Dessa forma, os personagens entregam-se um ao outro de forma muito espontânea, viajando pelos detalhes de cada um e mergulhando na parte mais intrínseca da psique humana. Assim, de forma muito simples, o filme aparentemente “bobinho” transforma-se numa narrativa densa e comovente com fortes tendências psicanalíticas.

O modo como o tempo é abordado no filme também é intrigante, já que o amor só pode ser vivido até o amanhecer. Quando o dia nascer de novo, tudo terá acabado. E, paradoxalmente, é nessa conjuntura efêmera que se constrói uma das mais belas e profundas histórias de amor do cinema. E talvez seja justamente esse o ponto extraordinário que diferencia esta história de amor de tantas outras.

Consequentemente, o tempo dos personagens é exclusivamente deles, como se estivessem vivendo num sonho que só eles podem controlar, e nós permanecemos eternamente espectadores passivos de uma narrativa que é só deles.

Jesse e Celine, com sua paixão, apesar de rápida, meticulosa e coerente, enxergam-se de forma única. E Linklater, com sua atenção à fotografia e aos planos detalhistas e delicados, ressalta a inocência e a veracidade dessa paixão.

Viena torna-se um mero pano de fundo quando nos vemos vidrados nas conversas do casal. Nada de extraordinário acontece. E assim, a trama constrói-se nos detalhes, nas risadas, num beijo inesperado, no olhar curioso que explora o outro.

O desabrochar dessa paixão, constituído de longos diálogos, olhares e descobertas, é uma metáfora para a transição da juventude para a vida adulta. Nessa nova fase da vida, é preciso enfrentar uma realidade muito mais dura e difícil.

Assim sendo, no desfecho, o casal precisa se separar, marcando aquele momento que torcíamos para não acontecer, mas sabíamos que aconteceria.

E, com essa despedida, Jesse e Celine precisam entrar de vez na vida adulta. Este vazio, e o luto de um amor perdido, são também nossos. Ao entrarem no trem a caminho de seus destinos, despedem-se de uma fase da vida muito estimada, mas também muito efêmera: a juventude.

A partir de agora, é incerto o caminho que seguirão. Tudo é muito incerto… No final, o que nos resta é a memória de que tudo foi bom enquanto durou.

Com uma sequência de imagens que mostram a cidade de Viena vazia, o longa se encerra, abalando-nos por inteiro, mas também deixando um gostinho de quero mais, representado pelo leve sorriso no rosto de Jesse e Celine, relembrando tudo que viveram.


Filme: Antes do Amanhecer
Direção: Richard Linklater
Ano: 1995
Gêneros: Romance/Independente
Nota: 10