Romance açucarado na Netflix vai adoçar sua vida e é um mimo para a alma Divulgação / Netflix

Romance açucarado na Netflix vai adoçar sua vida e é um mimo para a alma

Faz alguns anos que a Austrália não é mais a terra de natureza selvagem e gente rude, mas hospitaleira — ou faz alguns anos que a Austrália não é mais apenas isso. Essa é a primeira das conclusões a que se chega diante de “O Amor Está no Ar”, a comédia romântica do australiano Adrian Powers. Depois de um hiato de uma década, preenchido com curtas-metragens de apurado senso estético e mensagens até luminosas, sempre tendo seu país por cenário, Powers volta a dirigir um longa (nem tão longa assim), também na Austrália, mas sem nada da pretensão intelectual de seus trabalhos bissextos de combustão rápida.

O único intuito do diretor com seu filme é divertir, e o consegue galhardamente. A história de um amor improvável, que todo mundo sabe muito bem como vai acabar, cativa pela perfeição da técnica, pelo carisma do elenco e, claro, pela desambição mesma do roteiro de Powers, Caera Bradshaw e Katherine E. McPhee, ao contrário do que se tem no temperamento da personagem central. 

A cadeia de montanhas que recobre a Cordilheira Australiana e sua mata de vegetação exuberante, coroada pelo firmamento quase sem nuvens, é um bom epítome de “O Amor Está no Ar”. A rotina de uma casa asseada, onde o vento da bonança corre livre e a alva luz da serenidade banha cômodos amplos, é um dos tantos recursos visuais de que o diretor se socorre para fazer o espectador comprar de vez a história, que jamais abdica dessa simplicidade. Dana procura por Doug, o cachorro, enquanto já se apronta para ir trabalhar; ela é nada menos que a comandante das aeronaves da Fullerton Airways, a companhia que levantou do zero com os pais, Jeff, papel de Roy Billing, e Harriet, já falecida. Delta Goodrem é o arquétipo da mocinha, bem-intencionada, corajosa, dada a uma boa briga pelos motivos mais justos possíveis e, por evidente, linda, e assim vai para o seu ambiente profissional, um hidroavião de prefixo FNB (ou Foxtrot November Bravo, no jargão aeronáutico), que pousa algum tempo depois nas águas plácidas de um lago.

A cena desloca-se para Londres, onde uma conspiração de capitalistas malvados se cerca de todos os cuidados para tomar a Fullerton de Dana e seu velho pai — isto é uma comédia romântica e mais nada, lembre-se. Esses homens gananciosos são representados por William Mitchell, o filho de uns maiores empresários do mercado de transporte aéreo do mundo, que cruza o globo encarregado de adquirir a companhia, à beira da falência.

O encontro de Dana e William, o menos típico mocinho de Joshua Sasse, mas também olimpicamente belo, padece de todas as intempéries metafóricas e reais que um amor indesejado pode sofrer — inclusive um ciclone categoria 3, com ventos que sopram com a força de até 280 quilômetros por hora. Se um romance sobrevive a isso, quem é o magnata que se atreveria a separar Dana e seu novo príncipe encantado? Era só o queríamos, e “O Amor Está no Ar” nos oferece.


Filme: O Amor Está no Ar
Direção: Adrian Powers
Ano: 2023
Gêneros: Comédia/Drama/Romance
Nota: 8/10

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.