Kuda Bux, que tem semelhanças físicas reais com o ator Ben Kingsley, foi a inspiração para que o escritor de literatura infantojuvenil Roald Dahl criasse seu conto “A Incrível História de Henry Sugar”, que deu origem ao livro que contém outras seis fábulas. A que dá nome à publicação, em particular, foi adaptada recentemente para as telas pelas mãos e pela mente excêntrica e perspicaz de Wes Anderson.
Ovacionado por cinco minutos pelo público do Festival de Cinema de Veneza, o curta-metragem, que tem duração de quarenta minutos, traz Dahl encarnado em Ralph Fiennes, que se recolhe em sua cabana no terreno onde sua casa, a famosa Gipsy House, está construída. Lá, ele rascunhou todas as linhas da história fictícia (embora se refira como verdadeira) de Henry Sugar (Benedict Cumberbatch), filho ocioso de uma família tradicional e abastada que, como qualquer outro milionário, se interessa em ampliar ainda mais sua fortuna.
Um dia, ele se depara com um curioso livro fino de capa azul, que contém um relatório médico escrito pelo doutor Chatterjee (Dev Patel). O documento traz o relato incrível de um paciente chamado Imdad Khan (Kingsley), que se autodenonima “O Homem que Vê Sem Usar os Olhos”. Ele comprova para o médico sua capacidade mágica de enxergar mesmo com seus olhos meticulosamente selados, depois de aprender métodos de ioga com o mestre indiano Yogi Hardawar. Imdad Khan, que usa sua habilidade para ganhar dinheiro como mágico, morre repentinamente, não dando oportunidade para que o médico realize um estudo científico sobre o caso, dando-o notoriedade internacional.
No livro de capa azul há uma descrição detalhada de como Imdad Khan desenvolveu o talento para enxergar sem necessidade de usar os olhos. Então, Henry Sugar decide colocar o método em prática, estudando-o com devoção durante cinco anos. Ele usa a habilidade para ver através de cartas de baralho e ganhar dinheiro em mesas de blackjack. Sugar coloca seu plano sistematicamente em ação, de forma que não se exacerbe nos ganhos para não chamar atenção demais.
Seguindo uma estética característica de Anderson, embora este negue ter uma, o curta-metragem é minucioso nos figurinos sob medida, em sua tonalidade colorida e pastel e em cenários que se montam e desmontam como se o elenco estivesse interpretando em um palco com cenários feitos de papelão. Ele mistura a linguagem teatral com literatura, fazendo com que os personagens digam quando um ou o outro irá falar algo e olham para a câmera, quebrando a quarta parede e interagindo com o espectador.
O filme não é o primeiro do realizador a ser adaptado de uma obra de Dahl, sendo “O Fantástico Sr. Raposo”, o pregresso. Anderson contou à Variety, que chegou a conhecer a viúva do escritor quando ainda gravava “Os Excêntricos Tennenbaums” e demonstrou a ela seu interesse por Henry Sugar. Durante anos, a família reservou a história para o realizador, que demorou para descobrir qual abordagem correta dar ao conto. Eventualmente, os direitos sobre os livros de Dahl ficaram nas mãos do neto, Luke. Depois, a Netflix acabou comprando toda a obra do autor. Foi aí que entrou a parceria entre o serviço de streaming e o cineasta, que filmou, além de Henry Sugar, outros três contos de Dahl, que serão liberados anualmente, de acordo com as estratégias da própria Netflix.
Filme: A Incrível História de Henry Sugar
Direção: Wes Anderson
Ano: 2023
Gênero: Comédia/Aventura/Fantasia
Nota: 9/10