Sequência de comédia de sucesso acaba de chegar na Netflix e é o passaporte para o fim de semana perfeito Divulgação / El Árbol Azul

Sequência de comédia de sucesso acaba de chegar na Netflix e é o passaporte para o fim de semana perfeito

Afrontando a lógica, o racional quase nunca se nos mostra tão instigante quanto poderia, não nos encanta, não consegue, enfim, cavar espaço num cérebro feito de labirintos, que se bifurca, se afunila e dá margem a pensamentos que fogem a qualquer noção de ordem. Como não sabe querer, no momento mesmo em que manifesta uma vontade, a natureza humana já lança a semente da destruição. A grande ironia em “Como Superar um Coração em Pedaços” é que a cada cena fica mais difícil se convencer que alguém tenha mesmo o poder de reparar os danos que relações sofrem ao longo de uma só vida, surgindo daí insegurança, medos, o horror do outro, o monstro inclemente da solidão. Joanna Lombardi Pollarolo aconselha seu público a repudiar toda vontade e todo desejo, mormente os revestidos da fantasia que se apodera de nosso corpo e nossa alma, e lhe diz que se agarre ao sonho da felicidade possível, nesta terra, oásis na areia estéril que mais de nós se distancia quanto mais julgamos tê-lo ao alcance das mãos. 

Bares são as reservas de água e outros líquidos, conforto emocional e alguma chance imediata de sobreviver à aridez da vida para adultos martirizados por cobranças de toda sorte — em especial as que só eles mesmos podem resolver. No salão escuro e colorido de um deles, está a rainha da coisa toda, que a exemplo do resto da humanidade foi obrigada a resistir à pandemia, a crises econômicas, e, no seu caso exclusivo, ao retorno do jeans de cintura baixa. Segundo María Fe Palacios, homens servem para qualquer coisa, menos para objeto da paixão de alguém. Na sequência, ela aparece tomando um martíni à beira da piscina com um rapaz, esperando algo mais que beijinhos e abraços. Quase toda a graça do roteiro de María José Osorio concentra-se em Gisela Ponce de León e sua cabeleira ruiva, tentando passar por cima de experiências desventurosas com o sexo oposto enquanto faz de tudo para vencer um bloqueio criativo e entregar os originais de seu livro antes que a quinta edição da Máfia Teens chegue à praça e ela corra o risco de ser esquecida. Ela negocia um prazo maior no café em que Ricardo Altamirano toma um lanche, e pensa num jeito de colher material para novos personagens: uma festa com todo o gênero de comensais — do sexo masculino, principalmente, por óbvio. No meio do segundo ato, Pollarolo volta a um instante de particular melancolia de Fe, com Ponce de León oferecendo uma boa performance dramática, até que a narrativa retorna para o presente, fazendo acenos a “Como Superar um Fora” (2018), em que a diretora esboça com Bruno Ascenso o perfil de Fe, Carolina e Natalia, as amigas interpretadas por Jely Reátegui e Karina Jordán. 

O novo romance de Fe, o segundo, vem à luz ao cabo de um parto doloroso, em que se ela parece mais confiante e mais aberta ao amor, como se vê pela aproximação de Luca, o mocinho encarnado por Jason Day. Se serão felizes, por um dia ou para sempre, ninguém sabe, mas ela decerto saberá, enfim, sair mais forte do que quando entrou. É uma lição e tanto.


Filme: Como Superar um Coração em Pedaços
Direção: Joanna Lombardi Pollarolo
Ano: 2023
Gêneros: Comédia/Drama
Nota: 8/10

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.