Quem não teme a internet vive em outro planeta. Essa rede mágica que nos conecta global e instantaneamente possibilita coisas incríveis. Democratiza a informação e o conhecimento, nos permite estar em contato com pessoas a oceanos de distância e guarda as nossas memórias audiovisuais em sua infinita nuvem, permitindo que sejam acessadas pela posteridade. Mas toda essa tecnologia também serve para o mal. Afinal, qualquer pessoa pode usar a internet. O uso irresponsável também serve para alastrar a desinformação, discursos de ódio e informações pessoais e íntimas de pessoas que não a autorizaram.
Em “O Acusado”, filme de Philip Barantini explora um dos maiores terrores que a internet pode proporcionar. Há, inclusive, casos reais similares. Alguém posta uma informação falsa, a mensagem viraliza e uma pessoa inocente tem sua imagem exposta e é publicamente execrada, e às vezes fisicamente linchada, sem ter feito nada. De qualquer forma, mesmo que tivesse feito algo, a acusação e punição não cabem ao populus, mas à Justiça, poder institucional com função de apurar, atestar e julgar.
No enredo, Harri (Chaneil Kular) sai de seu apartamento em Londres de trem para visitar a casa dos pais. Ele deve passar o final de semana cuidando do cachorro da família, enquanto seu pai e mãe viajam. No meio do caminho, ele lê na internet a notícia de a estação de trem foi bombardeada. O ataque terrorista causa comoção generalizada, mas seus desdobramentos são ainda mais imprevisíveis para Harri.
Horas depois, sozinho na residência dos pais, ele percebe que sua imagem viralizou na internet. Após a polícia liberar gravações de câmeras de segurança, uma ex-colega de escola de Harri o confunde com o suspeito e publica um tuíte em que ela afirma acreditar que ele seja o suposto terrorista. Logo o nome, fotos e informações pessoais de Harri começam a vazar, o tornando alvo de justiceiros da internet, que planejam perseguí-lo e ameaçam praticar verdadeiras atrocidades contra ele.
Não demora para que o apartamento de Harri em Londres seja vandalizado e os valentões apareçam na casa de seus pais para tornar reais as ameaças proferidas. Durante quase uma hora e meia de filme, acompanhamos com angústia e tensão o terror vivido pelo rapaz, enquanto tenta provar sua inocência e escapar dessa caçada absurda promovida contra ele.
Barantini consegue capturar de forma bastante crível o ambiente caótico da internet e como ela pode transformar drasticamente a vida das pessoas, arrancando-as de seus anonimatos e intimidades e expondo-as ao ódio injusto e muitas vezes gratuito. O quanto podemos suportar no lugar de Harri? Quantas pessoas já viveram situações similares e nós estivemos no lugar do júri, sentados em nossas cadeiras giratórias de frente para as telas, apenas julgando sem o mínimo de empatia as ações impulsivas e impensadas dos outros, e algumas sequer passavam de meros boatos.
É muito fácil nos enxergar pelos olhos de Kular, que em seu primeiro longa-metragem se destacou com uma atuação cheia de sinceridade e sensibilidade. Seus olhos doces, arregalados e em pânico gera empatia no público, que rapidamente consegue se colocar sob sua pele, atormentado pelos mesmos medos.
Filme: O Acusado
Direção: Philip Barantini
Ano: 2023
Gênero: Thriller
Nota: 10