Cada linha de histórias como “Segunda-Feira” captura prontamente a curiosidade do espectador, e por bons motivos. O humano é um ser de complexidade profunda, dividido em dois grandes conglomerados: um que vive na tranquilidade e previsibilidade das relações, e outro que enfrenta uma busca incessante por lógica nas atitudes, palavras e respostas do cotidiano.
O equilíbrio ideal seria uma mistura harmoniosa desses grupos, formando uma dança delicada onde o destino determina a duração do baile. Mas mesmo os mais cuidadosos cozinheiros da vida sabem que receitas podem falhar, e nesse tabuleiro de sabores distintos, a frustração é o prato garantido. A separação torna-se uma sombra, com sua presença aterrorizante constantemente pairando, criando uma aura de amargura inevitável.
No aclamado filme de Argyris Papadimitropoulos, a trama gira em torno de dois americanos em terras estrangeiras, ávidos por redefinirem suas identidades. O que inicialmente parece ser uma inusitada reviravolta positiva nas suas vidas, gradativamente revela-se um labirinto emocional. A projeção nos apresenta, com esmero cinematográfico, aos protagonistas Mickey e Chloe, interpretados magistralmente por Sebastian Stan e Denise Gough.
Eles vivenciam inúmeros desencontros sentimentais, frutos de uma paixão impulsiva, sempre com o sutil pensamento de um refúgio para onde voltar quando as saídas parecem invisíveis. A trama é habilmente construída, com toques sutis de Papadimitropoulos e Rob Hayes, evoluindo entre cenas intensas e momentos de catarse emocional, em que o público é transportado para dentro da complexa dinâmica dos personagens.
No início, Chloe é vista em um diálogo tumultuado em uma boate cheia, e logo descobrimos sobre seu passado com Christos, retratado por Andreas Konstantinou. A trama evolui, com nuances bem orquestradas de conflito e paixão, intercaladas com momentos de alívio cômico providos pela presença marcante de Giorgos Pyrpassopoulos. Enquanto a narrativa flui, o espectador se encontra submerso na angústia de Chloe, uma mulher presa entre a fascinação e o discernimento das imperfeições de Mickey, em uma história que caminha pela corda bamba entre a beleza e o caos.
O filme usa inserções textuais para guiar o público pelo tempo, ilustrando a montanha-russa vivida por Mickey e Chloe com destreza. Papadimitropoulos não poupa esforços para retratar o calor e a intensidade do relacionamento dos protagonistas, sempre equilibrado com um olhar refinado pela lente de Christos Karamanis.
“Segunda-Feira” é um retrato visceral da humanidade, um balé emocional que deixa o espectador na torcida por um milagre, uma fagulha de esperança mesmo após os créditos rolarem. O espectador permanece na sala escura, ponderando sobre o destino dos personagens e suas escolhas, com um misto de empatia e reflexão profunda.
Filme: Segunda-Feira
Direção: Argyris Papadimitropoulos
Ano: 2020
Gênero: Drama/Romance
Nota: 8/10