Filmaço indicado a cinco Oscars com Matt Damon está na Netflix Divulgação / Miramax

Filmaço indicado a cinco Oscars com Matt Damon está na Netflix

Anthony Minghella era um diretor modesto. Iniciou sua carreira em 1978 e, até sua morte, em 2008, dirigiu apenas sete longas-metragens. Mas o cineasta era caprichoso, por assim dizer. Por trás de obras aclamadíssimas, como “Um Romance de Outro Mundo”, “O Paciente Inglês” e “Cold Mountain”, foram suas as mãos que moldaram o indicado a cinco estatuetas do Oscar “O Talentoso Ripley”, de 1999. Minghella já havia vencido o prêmio da Academia como melhor diretor em 1997 por “O Paciente Inglês”.

O também ganhador do Oscar de melhor roteiro original pelo filme “Gênio Indomável”, Matt Damon, agora com 53 anos, começou sua carreira em 1988 com papeis minúsculos e alguns nem creditados. Com quase 100 filmes no currículo, Damon apareceu de verdade em “O Homem Que Fazia Chover”, um suspense policial que foi lançado no mesmo ano de seu “Gênio Indomável”, que coescreveu e estrelou com Ben Affleck.

A partir deste ano, Damon não apenas viu sua popularidade ascender, como papeis de enorme destaque pousarem em seu colo. Então, depois de estrelar em “O Resgate do Soldado Ryan” de Steven Spielberg, “Cartas na Mesa”, de John Dahl, e “Dogma”, de Kevin Smith, todos muito bem-recebidos pela crítica, ele teve a oportunidade de interpretar um dos papeis de maior relevância de sua carreira, o de Tom Ripley, no filme de Minghella “O Talentoso Ripley”.

O enredo se passa na década de 1950. Tom Ripley (Damon) é um pianista pobre em Nova York, que depois de chamar atenção de um milionário em uma de suas apresentações por vestir um casaco com o emblema de Princeton, é contratado por ele para viajar até a Itália para resgatar seu filho playboy, um ex-estudante dessa universidade, cuja ambição é viver de mesada no velho continente. Na verdade, o casaco de Ripley era meramente emprestado e, mais tarde, somos informados que ele não estudou na instituição, mas trabalhou lá como afinador de pianos. Como o engano lhe proporciona a devida confiabilidade, ele vai até o fim com a mentira.

Dickie Greenleaf (Jude Law), o filho do tal milionário, perambula entre paraísos históricos com sua namorada escritora Marge (Gwyneth Paltrow). Um verdadeiro bon-vivant, ele desfruta de seu nome e da fortuna da família em clubes de jazz, roupas caras e turismo por toda Europa. Ao conhecer Tom Ripley e tomar conhecimento dos planos de seu pai, Dickie abraça o jovem nova-iorquino como um irmão, incluindo-o em sua rotina idílica e seus passeios de barco, prometendo viagens e roupas de marca. Ripley se sente acolhido e, ao mesmo tempo, deseja usufruir dos luxos que essa nova amizade pode lhe proporcionar, já que agora pode acessar coisas que nunca teve na vida. Ripley tem talento apurado por imitações e mentiras. Ele estuda minuciosamente Dickie, aprendendo sobre seus gostos musicais, falsificando sua assinatura e, até mesmo, imitando seus trejeitos.

A Itália explorada neste filme é aquela sob o ponto de vista de Ripley e a que enxergamos apenas como um turista ou sonhador. Um local onde o verão é eterno, a cultura fervilha, um local misterioso e pulsante, diferente da Nova York, que se mostra sem graça e como qualquer outro lugar. Ou seja, o protagonista está dentro de seu sonho.

Depois que Freddie (Philip Seymour Hoffman), um amigo de faculdade de Dickie, aparece insinuando que Ripley é um aproveitador, Dickie muda sua relação com o rapaz, o excluindo de suas viagens e tentando afastá-lo de sua vida. Durante um passeio de barco, os dois começam a discutir e partem para as vias de fato. As agressões mútuas resultam no trágico assassinato de Dickie. Para encobrir o crime, Tom Ripley decide assumir de vez identidade de sua vítima (é que ele o fez algumas cenas antes), se apropriar de seus bens e usufruir de seu estilo de vida na Europa. Mas ele terá que se desviar das buscas incessantes de Marge e Freddie por Dickie, que irão se desdobrar em um caso policial.

Baseado no romance homônimo de Patricia Highsmith, o enredo foi adaptado para as telas pelo próprio Minghella. Neste thriller psicológico, o cineasta penetra na complexa personalidade de seu protagonista, um homem simples, mas culto, intelectual, solitário, sensível e ambicioso. Sua voz suave, seu rosto amigável e seus bons modos o tornam particularmente perturbador. É seu charme tímido e despretensioso que faz suas vítimas caírem em suas mentiras. Ele parece honesto e confiável. Na realidade, é apenas um manipulador nato. Ou talvez ele mesmo tenha uma visão distorcida de si próprio. Ripley é um ator nato, mas que não transforma seu talento em profissão, mas usa a própria vida como seus palcos. Como si próprio, parece apenas um rapaz tímido e inseguro. Ele sai muito melhor na pele dos outros. “O Talentoso Ripley” nos leva para lugares incômodos da alma, que despertam desconfiança, insegurança e inquietude.

Uma realização notável da carreira de Minghella, o longa metragem chegou a disputar o Oscar por melhor roteiro adaptado, melhor ator coadjuvante e outras três categorias. Em 2002, o longa-metragem ganhou uma sequência dirigida por Liliana Cavani, em que Ripley é interpretado por John Malkovich, mas longe de ter a mesma aclamada recepção.


Filme: O Talentoso Ripley
Direção: Anthony Minghella
Ano: 1999
Gênero: Suspense/Drama
Nota: 10

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.