Meninas e meninos, eu li “A Alma Perdida”, escrito por Olga Tokarczuk e ilustrado por Joanna Concejo, e recuperei minha alma. Olga Tokarczuk, o nome mais importante da literatura polonesa contemporânea, ganhou o Prêmio Nobel de Literatura de 2018 e obteve muita visibilidade no Brasil com o lançamento de seu romance “Sobre os Ossos dos Mortos” e o livro de ensaios “Escrever é Muito Perigoso”. “A Alma Perdida” é um projeto diferente e de difícil classificação. Talvez uma forma redutora de o definir seja estabelecer que trata-se de um conto ilustrado. O texto em si ocupa pouco mais de uma página. O restante são ilustrações da artista polonesa Joanna Concejo. Mas isso é muito pouco. É secar até os ossos o conceito da obra.
Em “A Alma Perdida”, texto e ilustrações se completam. Mais ainda, se enriquecem mutuamente. Sem os belos e instigantes elementos gráficos, a breve narrativa de Olga Tokarczuk estaria fadada a ser interpretada não mais do que como uma parábola moralizante. Talvez interessante por si só, mas, certamente, não memorável. Porém, amalgamada com os trabalhos de Joanna Concejo, tudo ganha, literalmente, cor, dimensão e profundidade. O que a artista faz não é meramente ilustrar o elemento literário, ela constrói uma narrativa gráfica ao mesmo tempo paralela, sobreposta e complementar ao texto. Cada ilustração possui sentido próprio, pode perfeitamente subsistir sozinha, mas observada no contexto do conto, soma entrelinhas e sentidos ocultos. Neste aspecto, vale destacar o fantástico trabalho da equipe da editora Todavia na edição brasileira.
Sem entregar o sentido geral do projeto, “A Alma Perdida” narra a história de um homem que se descobre sem alma. Não porque não a possui, mas, como está sugerido no título, perdeu-a. Seu desafio é recuperá-la. Não faz isso procurando, mas esperando. Quem entenderá como? Uma amiga presenteou-me com o livro, recomendando fortemente a leitura. Eu sigo com a corrente do bem literário, fazendo o mesmo: leia. Bons conselhos, passamos adiante.
Falando em bons conselhos, citei acima que uma das perspectivas de análise para “A Alma Perdida” é como uma parábola moral. De fato, existe uma “moral da história”. Interpreto que precisa ser colocada em perspectiva para não ganhar contornos de exaltação à imobilidade e ao conformismo. Como se diz, nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Ou, no contexto do conto, nem tanto o ritmo do corpo, nem tanto o ritmo da alma. Não quero entregar muito, para não estragar a experiência de leitura, mas se a sabedoria está mesmo no caminho do meio, talvez o protagonista possa encontrar uma forma de equalizar suas duas partes. Fazendo isso, poderá trabalhar com mais vigor e se divertir com mais sabor, viajar aproveitando o caminho e não só a chegada, sem se preocupar com passos em falso.
Ficou curioso para entender sobre o que estou falando? Leia “A Alma Perdida”, observe as ilustrações de “A Alma Perdida”. As palavras são a alma da obra, as ilustrações, seu corpo. Só funcionam, e funcionam maravilhosamente, juntos.
Livro: A Alma Perdida
Autor: Olga Tokarczuk e Joanna Concejo
Páginas: 48 páginas
Editora: Todavia
Nota: 8,5 /10