Aplaudido de pé nos cinemas americanos, filme que narra uma das maiores tragédias dos últimos 10 anos está na Netflix Karen Ballard / Lionsgate Films

Aplaudido de pé nos cinemas americanos, filme que narra uma das maiores tragédias dos últimos 10 anos está na Netflix

Peter Berg é o nome por trás de filmes como “Colateral” e “O Grande Herói”. Indicado ao Emmy duas vezes e com algumas premiações na estante, ele também é o diretor por trás de “O Dia do Atentado”, longa de ação que retrata a história real da explosão de duas bombas durante a maratona em Boston, em 2013, e a perseguição policial aos dois irmãos culpados pelo crime, Tamerlan e Dzhokhar Tsarnaev.

Atentados terroristas sempre causam grande comoção, porque geralmente deixam um número expressivo de vítimas, que na maioria das vezes são inocentes e sequer conhecem ou compreendem as motivações de seus executores. Esse tipo de crime serve meramente para causar estado generalizado de pânico e fazer com que os governos se sintam fracos, inseguros e impotentes.

O filme de Berg é a mistura de dois roteiros independentes, que foram unidos e adaptados para se tornarem apenas um longa-metragem. Escrito por Matt Cook e Joshua Zetumer, além do próprio Berg, o filme acompanha algumas das famílias acometidas pela tragédia a partir do dia anterior ao ataque.

Muçulmanos nascidos no Quirguistão, a família Tsarnaev se mudou para os Estados Unidos no início dos anos 2000. O enredo acompanha Tamerlan (Themo Melikidze) e Dzhokhar Tsarnaev (Alex Wolff) em sua residência horas antes do ataque, assim como sargento Jeffrey Pugliese (J.K. Simmons), o jovem estudante Du Meng (Jimmy O. Yang), o policial Tommy Saunders (Mark Wahlberg), o jovem casal Jessica Kensky (Rachel Brosnan) e Patrick Downes (Chris O’Shea), dentre outros.

No dia da maratona, Saunders é o oficial responsável pela segurança do evento que reúne centenas de pessoas rua Boylston. Os vencedores já haviam cruzado a linha de chegada há duas horas e o público ainda aguardava o restante dos corredores finalizarem seus percursos, quando duas bombas explodiram no meio da multidão nas calçadas, com uma distância de 190 metros uma da outra.

O filme de Berg intercala cenas reais de câmeras de celulares e de segurança dos estabelecimentos, com as encenadas, retratando com muito realismo os momentos de pânico e terror vivenciados pelas pessoas que testemunharam o ataque. É impossível não se sentir angustiado no sofá enquanto assistimos os policiais, bombeiros e pessoas comuns presentes no local tentando socorrer os feridos, além de compreender o medo e a insegurança pela possibilidade de haver mais bombas escondidas no perímetro. A produção transmite muito bem a tensão do momento, nos levando especialmente por meio das filmagens reais, para dentro dos horrores da tragédia. O atentado deixou mais de 280 pessoas feridas e três mortos, entre eles, um garotinho de apenas oito anos de idade.

Nas horas que sucedem as explosões, Boston é tomada por agentes do FBI, liderados por Richard DesLauriers (Kevin Bacon), que recriam a cena do atentado dentro de um ginásio para cronometrar e medir os passos do terrorista, ainda um nome e rosto desconhecido. Com a ajuda de Saunders, os agentes conseguem identificar nas filmagens o rosto do primeiro suspeito, Dzhokhar, à época com 19 anos. Conforme o detectam em gravações de câmeras de segurança, percebem que em alguns momentos ele aparece conversando com outra pessoa. Então, se dão conta de que há um segundo terrorista.

Conforme as investigações avançam na descoberta da identidade dos suspeitos, os irmãos executam um plano para chegarem até Nova York, onde planejam realizar novos ataques. No caminho, matam um policial do MIT e sequestram o estudante Du Meng para usar seu carro. Em um posto de gasolina, o refém consegue fugir do carro e ligar para a polícia, que logo chega e localiza o veículo em que os irmãos estão.

Então, começa uma cena de confronto inacreditável, que prova que, na vida real, os Tsarnaev estavam dispostos a qualquer coisa, inclusive morrer para causar o máximo de danos possível. Na troca de tiros, os irmãos chegam a arremessar bombas caseiras contra os policiais. Tamerlan acaba levando tiros dos policiais e é atropelado pelo próprio irmão durante a fuga. A perseguição é angustiante e de tirar o fôlego.

O filme de Berg detalha com um realismo quase que documental a série de eventos catastróficos provocados pelos Tsarnaev. É arrepiante a forma como o cineasta conseguiu transmitir todas as emoções de forma orgânica e intensa. O filme foi aplaudido de pé pelo público do festival do American Film Institute (AFI), uma das mais conceituadas organizações de cinema nos Estados Unidos e no mundo.

A produção foi executada graças a uma força-tarefa incrível de cidadãos comuns de Boston, que ajudaram na construção de sets e se ofereceram para os papeis de figurantes. Wolff e Melikidze estavam com aparências tão semelhantes aos reais terroristas, que quando passavam causavam tensão e nervosismo entre os figurantes.


Filme: O Dia do Atentado
Direção: Peter Berg
Ano: 2016
Gênero: Ação/Policial/Drama
Nota: 9/10

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.