Último dia para assistir na Netflix: a história de amor que fez as pessoas chorarem nas salas de cinema Divulgação / Universal Pictures

Último dia para assistir na Netflix: a história de amor que fez as pessoas chorarem nas salas de cinema

Misturar amor e doença — já sinalizando para a possível morte em alguma curva da estrada — é uma manobra cheia de riscos, que costuma degringolar em xaropadas indigestas, nem apetecendo ao público versado em romances difíceis, nem oferecendo reflexão profunda o bastante para que se bote de lado a casca meio pastosa da narrativa e se consiga e se aproveite o que dizem as entrelinhas.

“Por Toda a Minha Vida” fica entre um e outra, num movimento mais ou menos uniforme quanto a precaver a audiência do que pode acontecer de trágico, sem, por óbvio, deixar que a poesia escape. Mark Meyers nunca opta por uma só conjuntura, mas, em detrimento ponto, faz questão de esclarecer que vai ao menos tentar não permitir que seu filme não se torne cartesiano demais, artificioso em excesso, tirando dessa resolução momentos até surpreendentes, ao passo que também não é capaz de evitar a sedução do clichê.

Ninguém em sã consciência pode negar o impacto que produções bem escritas e bem dirigidas têm sobre o espectador, que chega a um filme pelos motivos mais impensáveis. No caso em tela, o roteiro de Todd Rosenberg, inspirado numa história verídica, cada elemento parece em seu lugar preciso e cada ator sabe o que faz ali. Mas certas pontas restam por serem arredondadas.

Um homem de feições asiáticas e atlético é o retrato da autoconfiança destacando-se numa multidão que avança célere, cada qual para algum lugar que considera importante. Uma mulher loira e bonita tece elucubrações acerca dos dias que se sucedem e viram borrões, esmagados pela rotina cinzenta e opressiva. Solomon Chau e Jennifer Carter parece que aguardavam desde sempre pelo instante em que iriam, afinal, se conhecer, se apaixonar, engatar um namoro com direito a todo o pegajoso mel de gente que se ama sem receios, sobretudo quando se é jovem, e, claro, sacramentar seu compromisso para Deus, a comunidade e a lei dos homens.

O peso de Sol, que desperdiça seu talento de chef no trabalho que lhe garante dinheiro para bancar os pequenos luxos (e o hobby) é contrabalançado pela lhaneza de Jenn, e nessa alquimia é que reside toda a graça de “Por Toda a Minha Vida”, com Harry Shum Jr. Reeditando o sucesso de Mike Chang, o nerd boa praça que rendia assunto em “Glee: Em Busca da Fama” (2009-2015), e Jessica Rothe confortável na pele da patricinha que não entra em guerra contra ninguém.

A obsessão de Rosenberg pelo tempo — o número 27.375, que crava quantos dias em média alguém pode viver, é uma presença inconveniente em lances fulcrais da ação —, sobretudo depois que se anuncia a, digamos, reviravolta do enredo, deixa passar boas oportunidades, que Meyers recupera em alguma proporção com tomadas dos dois contra o pôr-do-sol típico das comédias românticas. O casamento acontece, o desfecho é melancólico, contudo, e as imagens reais do casal em que o filme se baseia sugerem que Solomon Chau e Jennifer Carter passaram por durezas que Hollywood não mostra. E nem poderia.


Filme: Por Toda a Minha Vida
Direção: Marc Meyers
Ano: 2020
Gêneros: Drama/Romance
Nota: 7/10