Na vastidão da jornada humana, atravessamos várias fases, enfrentando emoções intensas e desafios inesperados. Somos frequentemente confrontados com a intersecção dos demônios internos e das adversidades externas. Esta colisão torna-se evidente quando nos encontramos desencaixados das expectativas do mundo. Além disso, nos vemos frequentemente sonhando com realidades mais grandiosas, anseios que são contrastados com a dura realidade de enfrentar a monotonia do cotidiano e os desafios impostos pela sociedade.
No filme “Já Não Me Sinto em Casa Nesse Mundo” (2017), temos a oportunidade de mergulhar em uma trama que ecoa sentimentos universais. Somos apresentados a Ruth Kimke, uma personagem que, como muitos de nós, vive presa em suas rotinas, e sente o peso das frustrações diárias. A normalidade de sua vida sofre uma ruptura abrupta.
Quando sua casa é invadida e seus pertences roubados, a dor e o vazio que ela sente não são causados apenas pela perda de bens materiais, mas principalmente pela violação de seu espaço pessoal, algo que é profundamente pessoal e sagrado para muitos. Esse evento traumático serve como catalisador para uma mudança profunda em sua perspectiva e direção de vida.
Inspirados por filósofos como Kierkegaard e Sartre, somos convidados a refletir sobre a natureza da existência e o propósito da vida. A história, enquanto se desenrola, não apenas traz à tona o tema do isolamento e do desajuste social, mas também lança luz sobre como frequentemente direcionamos nossas insatisfações para os outros.
Este é um fenômeno comum, um mecanismo de defesa: ao invés de enfrentarmos nossos conflitos internos e admitirmos nossas vulnerabilidades, nos escondemos atrás do escudo da projeção, culpando os outros por nossas inquietações.
A narrativa se aprofunda ainda mais ao explorar a busca de Ruth por justiça. Em sua jornada, não evita os aspectos mais escuros da sociedade. Ela se depara com o descaso das autoridades, uma representação da realidade de muitos que buscam ajuda. Esta crítica sutil, porém incisiva, ao sistema policial e suas falhas, evidencia a desconexão entre os cidadãos e aqueles que deveriam protegê-los.
No entanto, essa busca também a leva a uma aliança improvável com seu vizinho Tony. Esta relação, apesar de inicialmente estranha e desconfortável, adiciona uma camada adicional de complexidade à trama. Tony, com suas próprias peculiaridades, ressalta o papel do acaso, do destino e das relações humanas na formação de nossa identidade e na superação de desafios.
À medida que o enredo se desenvolve, somos levados por uma montanha-russa emocional, mergulhando nas emoções e lutas dos personagens. Ruth, em sua jornada de autoconhecimento e reivindicação, apesar de seus contratempos e desafios, consegue encontrar uma nova perspectiva sobre si mesma. Esta jornada de transformação é marcada não apenas pelo desejo de recuperar seus pertences, mas, mais importante, por sua determinação em redescobrir seu lugar no mundo, uma sensação que muitos de nós, em diferentes momentos da vida, ansiamos encontrar.
Filme: Já Não Me Sinto em Casa Nesse Mundo
Diretor: Macon Blair
Ano: 2017
Gênero: Crime/Drama
Nota: 9/10