Inspirado em livro de Annie Ernaux, filme de amor obsessivo e arrebatador está escondido na Netflix e você ainda não viu Divulgação / Magali Bragard

Inspirado em livro de Annie Ernaux, filme de amor obsessivo e arrebatador está escondido na Netflix e você ainda não viu

Adentrar em um romance é uma jornada profundamente emocional que oscila entre a razão e o irracional. O envolvimento cresce, alimentado por emoções que vão desde o patético ao sublime. Este ciclo de encantamento e desilusão serve como pano de fundo para inúmeros relacionamentos, e é este universo que “Pura Paixão” (2020), dirigido por Danielle Arbid, captura de forma impressionante.

No filme, a dinâmica entre os amantes funciona como um microcosmo para avaliar o estado de saúde emocional de um relacionamento. Esta obra cinematográfica nos conduz através do tumultuado mar emocional de dois personagens complexos, enredados em suas próprias contradições e motivações. Essa dicotomia entre os personagens cria um terreno fértil para explorar as complexidades do amor moderno, da paixão à obsessão, do comprometimento ao distanciamento.

Os personagens Hélène e Aleksandr, originados da obra da escritora francesa Annie Ernaux, ganhadora do Prêmio Nobel de Literatura de 2022, são retratados de forma magistral por Laetitia Dosch e Sergei Polunin. A sutileza do roteiro reside na exposição de como dois indivíduos podem interpretar a mesma experiência de maneiras completamente diferentes. Hélène, uma professora universitária recém-divorciada, vê no seu novo relacionamento uma fagulha que pode reacender sua vida, enquanto Aleksandr parece mais retraído, sem a necessidade de revoluções emocionais.

Ao desconstruir estereótipos arcaicos, especialmente aqueles que se referem às relações amorosas, “Pura Paixão” nos faz questionar as pressões sociais que influenciam a forma como vivenciamos o amor e a paixão. Longe de ser uma narrativa reducionista, o filme e o livro do qual foi adaptado oferecem uma rica tapeçaria de emoções e motivações humanas que vão além das simplificações. A obra deixa abertas algumas perguntas essenciais — como, por exemplo, o contexto no qual essas duas figuras emocionalmente desajustadas se encontram — tornando o filme ainda mais intrigante.

O filme alcança seu ápice ao desconstruir as suposições do público, revelando nuances inesperadas na personalidade de Aleksandr e fornecendo a Hélène um momento de empoderamento pessoal e clareza. A tão antecipada separação do casal acontece de maneira única, fazendo referência ao clássico filme “Os Girassóis da Rússia” (1970) de Vittorio de Sica, mas com um toque completamente moderno. Esta reviravolta torna “Pura Paixão” um drama imperdível, cuja narrativa desafiadora e personagens multidimensionais capturam a complexidade da natureza humana e das relações modernas.


Filme: Pura Paixão
Direção: Danielle Arbid
Ano: 2020
Gêneros: Romance/Drama
Nota: 8/10