Novo filme da Netflix vai te desestabilizar: prepare-se para uma jornada emocional profunda ou não assista Ea Czyz / Netflix

Novo filme da Netflix vai te desestabilizar: prepare-se para uma jornada emocional profunda ou não assista

Dinâmicas de casal são complexas, e a chegada dos filhos só acentua essa complexidade, podendo fortalecer ou arruinar um relacionamento frágil. Fares Fares explora essa realidade no filme “Um Dia e Meio”, inspirado por uma matéria jornalística que capturou sua imaginação. Na estreia de seu longa-metragem, o cineasta sueco-libanês mergulha na desintegração de um casamento, exibindo uma compreensão aguda da psicologia humana e captura a angústia de um homem à beira do colapso.

O filme se inicia com Artan, vestido de azul e carregando uma mochila vinho, entrando em uma clínica de saúde. Ele pede para falar com Louise, mas é instruído a esperar. O suspense da abertura prende a atenção do público até a revelação de que Artan e Louise, interpretados respectivamente por Aleksej Manvelov e Alma Pöysti, já foram um casal e agora lutam pela custódia de sua filha Cassandra. O roteiro, uma parceria entre Fares e Peter Smirnakos, desdobra a complexidade de Artan e justifica, em momentos específicos, sua postura extrema em resposta à indiferença de Louise.

Ao explorar essa fissura emocional, o filme também traz à tona os dilemas da sociedade contemporânea, que frequentemente prioriza o individualismo em detrimento das relações familiares. Este panorama é ainda mais aprofundado com a introdução de Lukas Malki, interpretado pelo próprio diretor, um negociador que lida com o impasse de maneira tipicamente sueca. Sua abordagem metódica e racional contrasta com a turbulência emocional entre Artan e Louise, servindo como uma metáfora para as diferentes formas como cultura e individualidade influenciam nossas reações aos problemas emocionais.

A cinematografia, repleta de close-ups incisivos e planos sequência hábeis, contribui para a narrativa ao trazer o público para o epicentro do caos emocional. A escolha das paletas de cores, como o azul de Artan e a mochila vinho, vai além da estética e insinua uma profundeza emocional difícil de ser articulada em palavras.

Importante também é a representação de Cassandra, que mesmo estando fora de cena em muitos momentos, se faz sentir como um ponto fulcral na dinâmica entre seus pais. Ela personifica a inocência presa em um labirinto de relações adultas complexas e disfuncionais, apontando para os efeitos duradouros que a instabilidade do casal pode exercer sobre a formação de sua identidade e bem-estar emocional.

As atuações são outro ponto forte. Manvelov oferece uma interpretação crível e dimensional de Artan, enquanto Pöysti personifica uma Louise que é simultaneamente vítima e vilã, em um drama que beira o trágico.

“Um Dia e Meio” é uma obra crua, mas sensível, que nos desafia a confrontar a realidade desconfortável de que as relações mais profundas são frequentemente as mais frágeis e voláteis. O filme não oferece respostas fáceis ou soluções prontas, mas sim uma janela para a complexidade das dinâmicas humanas, forçando-nos a questionar nossas próprias relações e a fragilidade da condição humana. É um filme que deixa uma impressão duradoura, ressoando muito depois que os créditos finais rolam.


Filme: Um Dia e Meio
Direção: Fares Fares
Ano: 2023
Gêneros: Ação/Drama/Suspense
Nota: 9/10