“O Céu da Meia-Noite”, dirigido por George Clooney, mergulha profundamente no reino da ficção científica, usando uma narrativa que entrelaça diferentes temas e perspectivas. Baseado no romance de 2016 de Lily Brooks-Dalton, o filme busca captar e ampliar o universo proposto no livro, trazendo à tela uma série de dilemas éticos e humanos.
O enredo ressoa com ecos de notáveis contribuições ao gênero de ficção científica. Enquanto se percebe a influência de obras como “2001 — Uma Odisseia no Espaço”, de Kubrick, o filme tenta encontrar seu próprio ritmo, entrelaçando passado, presente e futuro de maneira a construir um mosaico complexo e às vezes ambíguo.
A figura de Augustine Lofthouse, interpretada por Clooney, é central na trama. Seu papel como cientista, embora por vezes estereotipado, é o catalisador para muitos dos eventos que se desdobram na história. A ambientação apocalíptica, seja ela fruto de uma pandemia ou conflitos armados, serve como plano de fundo para as decisões e dilemas que Lofthouse enfrenta. Seu relacionamento com a Estação Meteorológica de Lake Hazan, no Ártico, demonstra não apenas sua obstinação, mas também as escolhas difíceis que precisam ser feitas em tempos de crise.
O roteiro sugere que o personagem pode estar enfrentando uma doença terminal, o que adiciona um elemento de urgência à sua missão. Este cenário, somado à presença inesperada de Iris, a jovem autista, cria uma complexidade emocional adicional, levando o espectador a ponderar sobre questões de responsabilidade, destino e escolha.
A trama se desenrola em vários níveis. Por um lado, temos o desafio terrestre enfrentado por Lofthouse e Iris no Ártico. Por outro, acompanhamos a saga da equipe da Aether, cada membro com suas próprias motivações e preocupações. A interação entre Tom e Sully Rembshire é um exemplo da tensão entre dever profissional e laços pessoais, enquanto a equipe luta para entender o que aconteceu na Terra.
A cinematografia do filme, embora técnica, às vezes carece de um toque humano. As sequências no Ártico, em particular, são uma oportunidade perdida para explorar mais profundamente a relação entre homem e natureza.
Alguns elementos do roteiro são questionáveis, como o desconhecimento aparente da equipe da Aether sobre a situação na Terra. No entanto, estas lacunas servem como convites para o público refletir sobre o que poderia estar acontecendo fora da tela.
O filme também explora temas como sobrevivência, isolamento e a busca pela verdade em um mundo cada vez mais incerto. A presença constante da morte, seja pela doença de Lofthouse ou pelos perigos enfrentados pela equipe da Aether, levanta questões sobre o que significa realmente viver.
“O Céu da Meia-Noite” é, em sua essência, uma exploração de dilemas humanos em um cenário de ficção científica. Os personagens, em suas jornadas individuais e coletivas, forçam o espectador a enfrentar questões universais sobre existência, propósito e legado. Em um mundo em constante mudança, o filme é um lembrete de que as escolhas que fazemos têm consequências, e que o futuro é, em última análise, moldado pelas decisões que tomamos no presente.
Filme: O Céu da Meia-Noite
Direção: George Clooney
Ano: 2020
Gêneros: Ficção científica/Drama/Suspense
Nota: 9/10