O filme fascinante com Ben Affleck na Netflix que vai manter seus olhos grudados na tela por 144 minutos Divulgação / Gaumont Distribution

O filme fascinante com Ben Affleck na Netflix que vai manter seus olhos grudados na tela por 144 minutos

Showrunner de séries como “Plantão Médico”, “The West Wing” e “Maid”, John Wells fez seu nome na televisão. Já no cinema, foram poucos trabalhos, dos quais se destaca “A Grande Virada”, um drama quase biográfico que dirigiu e escreveu e que trata da crise financeira em uma grande corporação americana.

Filmes sobre bolhas imobiliárias, grandes quebras em Wall Street e o mercado financeiro geralmente são baseados em histórias reais, porque o sucesso inspira, mas o fracasso também. Especialmente em um ambiente com um capitalismo tão bem-acabado como os Estados Unidos, onde a competitividade entre os trabalhadores é quase que injetado como vacina na corrente sanguínea dos americanos. Por isso tanto criam, tanto empreendem, tanto lucram.

Estar por cima da carne seca é um objetivo. O capitalismo é assim, feroz e voraz. Quanto mais alguém está em vantagem, significa que um outro alguém está em desvantagem. O filme de Wells analisa essa dinâmica enquanto narra a crônica de três homens: Bobby Walker (Ben Affleck), Phil Woodward (Chris Cooper) e Gene McClary (Tommy Lee Jones), três executivos afetados pela recessão em 2010.

Ambientado em Massachusetts, Wells conta que o enredo partiu de uma história pessoal. A inspiração veio quando a empresa em que seu cunhado trabalhava se fundiu com uma companhia suíça, deixando cinco mil pessoas imediatamente desempregadas, entre eles, seu familiar. Depois de decidir pelo tema, o cineasta deixou um anúncio na internet perguntando se pessoas que passaram por situações similares queriam dar seus relatos. Não demorou para que milhares de respostas chegassem em sua caixa de mensagem.

No enredo, Bobby é um funcionário de colarinho branco em uma indústria de navios não militares. Bem-educado e com um currículo impressionante, ele construiu uma vida confortável para sua família em um bairro de classe média, com direito a um Porsche na garagem e assinatura no clube de golfe da cidade. Quando a empresa em que trabalha decide cortar centenas de empregos para melhorar seu balanço patrimonial durante uma crise financeira global, Bobby é um dos demitidos.

A ilusão da estabilidade financeira e da vida de privilégios cai, repentinamente, por água abaixo. Ele, que achava que conseguiria ser contratado por outra empresa em apenas alguns dias, passa o ano desempregado e vê seu estilo e qualidade de vida despencar. A família perde a casa própria, o carro importado e vários de seus luxos. Humilhado, ele é obrigado a aceitar um emprego braçal na empresa de seu cunhado, Jack (Kevin Costner), no ramo da construção civil. Enquanto vê sua carreira afundar, um dos CEOs fundadores da companhia para a qual tralhava, Salinger (Craig T. Nelson), fica ainda mais rico e lucra dígitos milionários. Mesmo assim, centenas de funcionários são largados ao desespero.

Gene McClary, um dos fundadores da companhia ao lado de Salinger, também tem seu cargo tomado. Mas o impacto da crise em suas economias é sutil, já que suas ações valem cada vez mais em Wall Street. Um de seus primeiros funcionários, Phil, que escalou cargos na empresa, tendo começado como um operário e sendo demitido como um chefe, se desespera após ter dedicado toda sua vida à companhia que o jogou na rua aos 60 anos de idade. O filme acompanha um pouco da rotina dos três personagens, mostrando as consequências e a medida da crise na vida pessoal e profissional de cada um.

Um drama inteligente e sagaz, Wells aborda para cada um de seus personagens três diferentes desfechos. Eles navegam do mais otimista para o mais trágico, mostrando que a realidade pode ser diversa. Você pode nunca mais se recuperar de uma crise como essa ou conseguir recomeçar do zero. O destino de cada engrenagem no capitalismo é diverso, mas depende de fatores sociais, como cor, idade, estudo, dentre outros, e aí está seu traço mais frio e cruel. Quanto menos privilegiado, menor são suas chances de se recuperar do impacto.

“A Grande Virada” é um drama político sem se infiltrar muito profundamente nas vertentes partidárias, mas lança sementes na mente do espectador para que este possa tirar suas próprias conclusões.


Filme: A Grande Virada
Direção: John Wells
Ano: 2010
Gênero: Drama
Nota: 8/10

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.