Esperar dói, mas desistir dói mais ainda

Esperar dói, mas desistir dói mais ainda

Temos pressa. A comida é fast, o e-mail é urgente, o macarrão é instantâneo, a reunião é de emergência. Se o livro é chato, paramos de ler. Se o filme é ruim, mudamos. Se não gostamos da música, trocamos. Não aguentamos esperar ao telefone, nos irritamos quando não nos atendem imediatamente no restaurante, na loja, na fila do supermercado, na consulta médica. Porque a nossa fome é maior, a nossa saúde é mais importante, o nosso apuro é impreterível. Não suportamos atrasos, mesmo que — sem admitir — sempre estejamos atrasados.

Com uma década de carreira nós já trabalhamos em mais empresas do que os nossos pais trabalharam toda uma vida. Se isso é bom ou ruim, sinceramente, eu não sei dizer. Eu sei que as nossas aspirações continuam as mesmas, com a diferença que não temos mais a paciência de percorrer o trajeto como, um dia, os nossos pais percorreram. Queremos um sucesso premente, o cargo de chefia com meses de casa, acertar na loteria do amor na primeira rodada. A culpa e a desculpa é que não temos tempo a perder. Ora, mas afinal, alguém tem?

A escassez do tempo e o aproveitamento dele são os nossos piores pesadelos. Por isso ninguém espera por nada. Até porque, na nossa percepção tão imediatista, esperar significa esperançar, ou seja, cruzar os braços e aguardar que caia um bilhete premiado dos céus sem ter feito nenhuma aposta. O que precisamos entender é que esperar também é persistir. Persistir é perseverar. Perseverar é o caminho para alcançar.

Consultemos o nosso arquivo de memórias. Você se lembra de alguma vez ter triunfado sem um grande e merecido esforço? A vida não é mãe, minha gente. Ela é madrasta e, por isso mesmo, não nos dá nada de mãos beijadas. Esqueça toda a brevidade do hoje, porque o futuro é feito de hoje, amanhã, depois de amanhã, e depois e depois de amanhã… Somos como uma casa em construção: não adianta fazer o teto se não há paredes que o sustente.

Preste bem atenção: nenhuma vitória se faz sem insistência. Quando desistimos de algum sonho nos sentimos incompetentes, injustiçados, frustrados diante de uma suposta incapacidade própria. Questionamos os métodos e duvidamos das nossas habilidades sem avaliar que, entre o objetivo e a meta, existe uma trilha de esforço e dedicação. Então, esperar não é falta de ação. Esperar é não desistir.

Esperar dói, mas desistir dói mais ainda. Eu sei. A gente sofre com as demoras da vida, com as curvas sinuosas da estrada longa, porque não conseguimos enxergar a claridade no fim do túnel. Nossa ansiedade é tanta que nos faz querer avançar um tempo que não pode ser percorrido em menos tempo, que não tem desvio, que não faz milagre. Aguardemos, pois, firmemente, que o tempo caminhe com as suas passadas cautelosas e construtivas, que ele nos traga o que nos é de direito e merecimento, no momento exato que estivermos preparados para ter o que tanto buscamos.

“Quem acredita sempre alcança”, já dizia a canção. E não é só pelo fato de crer ou esperançar, mas também por agir. É porque aquele que acredita não desvia o foco. Mais que isso, ele tem a confiança de ser merecedor de um recomeço feliz. O êxito chega para quem sabe esperar, perseverar e agir.

Karen Curi

é jornalista.