Casais que se desentendem, se afastam e voltam às boas só para que, não muito tempo depois, tornem a brigar e desejem padecer de qualquer mal desde que não mais tenham em seu entorno a sombra da pessoa por quem antes eram capazes de matar e morrer, findando assim o ciclo (ou não) são o componente mais elementar das narrativas humanas, desde os clássicos gregos na Antiguidade, passando por Shakespeare e desaguando em novas obras-primas desse gênero, como Bergman e Antonioni. O polonês Filip Zylber emula a força dos grandes nomes das artes que ousaram definir a importância do mais humano dos sentimentos, e em “Amor² para Sempre” continua a embalar o público no carrossel de emoções que passam a reger duas almas que se tocam muitas vezes sem maiores expectativas quanto ao que podem vir a ser juntas. Terceira produção da franquia começada dois anos antes, todas dirigidas por Zylber, aqui Monika e Enzo, o casal de protagonistas vividos por Adrianna Chlebicka e Mateusz Banasiuk parece ter vencido desacertos como dupla personalidade, comportamentos sexuais um tanto heterodoxos e a usurpação de seu paraíso íntimo por amantes tão inesperados quanto deleitosos, caminhando em marcha ligeira rumo ao altar. Até que um novo contratempo se impõe.
Os roteiristas Natalia Matuszek e Wiktor Piątkowski contam com uma quantidade restrita de personagens em histórias pouco mais que lacônicas cujos arcos não se fecham, mas que nunca deixam de girar à volta dos equívocos de um homem e uma mulher em circunstâncias que nem sempre fazem um todo coeso, imprimindo ao texto a aura de uma antologia de contos entre prosaicos e vesanos, que servem mais para que o leitor apenas se inteire do assunto mais importante e procure bibliografias mais substanciosas. Zylber escolhe começar seu filme na paisagem bucólica em que o galã de Banasiuk elabora filosofia barata sobre possíveis explicações quanto ao momento em que a paixão vai se transformando em algo maior, felicidade tão incontrolavelmente perfeita que faz da vida apenas uma sequência de cenas românticas. Todos sabemos que isso não significa que um grande amor está para nascer; contudo, Enzo está certo de que vai passar o resto da eternidade ao lado de Monika, que por seu turno, ao menos na aparência, é uma mulher que preza pela cordura. Não é a primeira vez que a mocinha de Chlebicka é pedida em casamento pelo namorado, o que por si só já é uma excelente pista do que vai acontecer no segundo ato — mas antes disso, ainda nesse quadro, um grupo de ciclistas em disparada dá ao público a certeza de que levar adiante essa relação talvez não seja lá muito prudente. O diretor joga pela trama fragmentos narrativos que nos permitem concluir que, sim, Enzo não é para casar, o que Ewa, a personagem de Magdalena Pociecha confirma. No desfecho, à moda das comédias românticas de Hollywood, o amor vence, mas passa longe de convencer.
Filme: Amor² para Sempre
Direção: Filip Zylber
Ano: 2023
Gênero: Comédia romântica
Nota: 7/10