Thriller histórico da Netflix equilibra tensão e profundidade, deixando você sem fôlego até o último segundo Divulgação / Netflix

Thriller histórico da Netflix equilibra tensão e profundidade, deixando você sem fôlego até o último segundo

A imprevisibilidade de eventos como os que “6 Dias” retrata só torna ainda mais evidente a certeza de que o homem está sempre ansiando por um milagre — mesmo quando presa de circunstâncias que o encerram no labirinto de dilemas cristalizados ao longo da vida. Destrinchando uma tragédia real da forma como só o cinema é capaz, lançando mão de imagens milimetricamente pensadas a fim de que não se perca uma única reação dos atores, o filme do neozelandês Toa Fraser nos convence que o mundo nunca foi mesmo um lugar onde o homem pudesse sentir-se em casa, que toda sensação de mansuetude, de conforto, de adaptação logo tem de sujeitar-se à tirania dos poderosos de turno, e como se isso não bastasse, deve também recear as ameaças dos facínoras que insistem em atropelar o fundamento básico da convivência harmoniosa entre os homens, tentam impor sua vontade pela força bruta e de tanto arbítrio, de tanta violência levanta-se apenas o ódio e a barbárie, refervendo no caldeirão de onde emana o fumo da desordem e da morte.

Submetendo a era Margaret Thatcher (1925-2013) a um retrospecto enxuto, mas analiticamente detalhado, o roteiro de Glenn Standring joga luz sobre a invasão, em 30 de abril de 1980, à embaixada iraniana em Kensington, bairro nobre de Londres, por seis rebeldes da Frente Revolucionária Democrática para a Libertação do Arabistão (ou Cuzistão), a FRDLA, que redundou no cativeiro de 26 reféns. Requisitado pelo gabinete da primeira-ministra britânica, o Special Air Service, grupamento de elite do exército da Grã-Bretanha conhecido pela perícia e alto índice de sucesso no controle e resolução de conflitos extremos, entra em ação e, a partir desse momento, “6 Dias” envereda por lances plenos de agilidade e tensão, seja no passeio íntimo da câmera dentro do cativeiro, seja nas discussões um tanto bizantinas e sempre pautadas pelo formalismo inglês dos homens de Thatcher. Nesse embalo, destacam-se as cenas das reuniões na pré-escola montessoriana, o que não deixa de ser uma blague duplamente poderosa. É este o gancho para que Fraser entre no argumento da ação terrorista em si, apresentando os nomes em torno dos quais a narrativa se desenrola.

A versão do diretor para o episódio, um dos mais traumáticos para a sólida diplomacia inglesa, celebrada em Benjamin Disraeli (1804-1881) e Winston Churchill (1874-1965), vem à tona em duas frentes. Fraser registra os intestinos da Operação Nimrod, do SAS, em que o oficial Rusty Firmin mostra-se essencial, sem prejuízo da cobertura jornalística eminentemente corajosa e imparcial da BBC, a emissora pública do Reino Unido, personificada na figura da destemida Kate Adie. Jamie Bell como o impetuoso Firmin e Abbie Cornish dando vida a uma Adie assombrosamente centrada são, sem dúvida, a substância dramática num enredo rocambolesco e complexo, mas também mesmerizante e sedutor — a ponto de ser possível dispensar-se a presença vigorosa, porém repetitiva de Mark Strong como Max Vernon (1936-2021), o comandante da missão.

A Operação Nimrod se estendeu por seis dias, até 5 de maio, com duas mortes e a libertação das outras 24 pessoas feitas prisioneiras pela FRDLA, cujo chefe Awn Ali Mohammad, o Salim, encarnado por Ben Turner num desempenho brilhante, foi morto e sepultado sem lápide no subúrbio de Londres.


Filme: 6 Dias
Direção: Toa Fraser
Ano: 2017
Gêneros: Ação/Thriller
Nota: 8/10