Um dia você deixou de ser criança. Foi preciso trabalhar e ajudar com as contas de casa. Você estudou para entrar na faculdade. Tornou-se independente. Teve filhos. E deixou definitivamente o seu mundo perfeito para trás, junto com as princesas no castelo e as lutas contra o Darth Vader. Esqueceu-se daquelas guerras imaginárias em que o herói sempre foi você.
Você aprendeu que o mundo de verdade é cruel, e que guerras reais derramam sangue e espalham tristeza. Você se acostumou com as injustiças do mundo. Também descobriu que nem sempre seria o vencedor de suas batalhas pessoais.
Sem perceber, às vezes, você vive no automático. Mas, um dia, pisca os olhos e se assusta com o tempo que passou rápido demais. Nesse momento de íntima revelação inquieta, você se lamenta. Chora. Lembra-se de suas derrotas e seus desamores. E percebe que o tempo não espera para que você se recupere de suas dores.
Porque vivemos apressados. Estressados. O trânsito caótico é o reflexo de nossas emoções. O sinal está fechado. Abre. Enquanto você pisa no acelerador para seguir com seu carro, o cara de trás buzina. Esse ocorrido é irritante. Você volta pra casa sem ânimo. Não é somente cansaço físico. Há uma angústia acumulada por causa de noites mal dormidas, refeições puladas que foram substituídas por qualquer fast-food e preocupações com o orçamento da casa.
Quando as coisas não estão claras dentro de você, tudo fica nebuloso lá fora. Não é possível olhar para a vida com fé e boa vontade enquanto você não souber lidar com os seus próprios tormentos. É preciso sair do túnel extenso e sem luz por onde você tem caminhado em terreno incerto e curvas duvidosas.
Você precisa mudar o rumo do seu percurso: a vida não é só trabalhar. Não vivemos somente para pagar contas. Não é possível que estejamos no mundo só de passagem. Precisamos fazer parte dele, olhando ao nosso redor e estimulando os nossos sentidos. Quando estamos felizes, o convívio entre nós fica bem mais tranquilo. Não precisaremos buzinar na cabeça um do outro por qualquer bobagem.
A maioria das pessoas se assusta com o que sente. É aí que está o segredo: permitir sentir. Abrir os olhos do coração e deixar fluir o que vem de dentro.
Como? Praticando um hobby.
Não é preciso ser especialista e nem querer ser o melhor no que irá desenvolver, só é preciso ser sincero com você mesmo. Os hobbies que praticamos tornam a vida mais leve, o trabalho mais prazeroso e os relacionamentos mais sinceros.
Faça jardinagem, pintura ou bordado. Escreva, cante, dance. Comece a velejar, pedalar ou correr. Transpire. Desabafe. Invente. Volte a ser criança em seus pensamentos. Resgate a infância que lhe fazia crer no impossível. Seja o herói de si mesmo. Deixe a alma repousar tranquila enquanto você encontra luz em seu subterrâneo.
Acredite, o suor tomará o lugar de suas lágrimas. O silêncio da alma fará música em sua imaginação, acalentando a inquietude no peito e suas aflições. E a inspiração fará transcender o sentimento ainda inominado oriundo de seus vazios.
Um dia, o hobby que você pratica deixará de ser um simples passatempo. Ele será o caminho por onde você deve continuar seguindo a si mesmo.