Prepare-se para sentir o coração na garganta: a Netflix traz um dos filmes mais perturbadores do cinema dos últimos anos Divulgação / Stage 6 Films

Prepare-se para sentir o coração na garganta: a Netflix traz um dos filmes mais perturbadores do cinema dos últimos anos

“O Chalé” é um filme de terror psicológico que acompanha o declínio mental de Grace (Riley Keough), uma mulher traumatizada que precisa tomar conta de seus futuros enteados em uma cabana isolada em meio a uma nevasca. Mas o thriller também é sobre fanatismo religioso e se baseia em uma história assustadoramente real, em que um grupo de 39 pessoas de uma seita, chamada Heaven’s Gate, cometeram suicídio em uma mansão de San Diego, nos Estados Unidos, em 1997.

No entanto, a produção não narra os eventos daquele fatídico dia em que ocorreram essas mortes específicas. Também não é baseado em fatos acurados, mas em uma invenção de coisas que poderiam ter sucedido aquele evento.

Grace é uma mulher traumatizada, porque seu pai era um fanático religioso que liderou um grupo de pessoas que o seguiam cegamente. Oprimida e manipulada por seus pais, ela cresceu com ideias fixas sobre pecado, arrependimento e castigo. Agora adulta, ela vive sob efeitos de remédios que a tornam relativamente equilibrada emocionalmente.

Noiva de Richard (Richard Armitage), ela pretende se aproximar dos filhos que o homem teve com sua ex-mulher, Laura (Alicia Silverstone), que morreu de forma trágica recentemente. A família, então, vai para uma cabana isolada para passar o Natal. Richard sai por uns dias para ir até a cidade comprar mantimentos, enquanto Grace toma conta das crianças. No entanto, as coisas ficam bastante esquisitas.

Enquanto a mulher e os enteados, Aiden (Jaeden Martell) e Mia (Lia McHugh) dormem, as comidas, roupas e os remédios de Grace desaparecem misteriosamente. À princípio, ela acredita que as crianças estão pregando peças, mas elas também estão confusas. Sem seus comprimidos, a saúde mental de Grace começa a deteriorar. Aos poucos, Grace tem alucinações e distorce a realidade. Com visões cada vez mais macabras, suas ações começam a ter consequências físicas reais para ela e todos que estão no mesmo ambiente.

Há várias referências ao Heaven’s Gate neste filme. Por exemplo, quando Aiden pesquisa Grace no Google e encontra informações sobre um suicídio em massa de um grupo religioso. Também quando ela tem uma visão do enteado morto e o enxerga exatamente da mesma forma em que os corpos dos membros da seita foram encontrados, na vida real, pela polícia.

Dirigido e escrito por Severin Fiala e Veronika Franz, o roteiro também teve ajuda de Sergio Casci. “O Chalé” é um terror psicológico bastante eficaz em conduzir os espectadores por labirintos cada vez mais paranoicos e neuróticos de sua mente. É um filme silencioso e que se arrasta em vários momentos. Ele não força sustos e nem espreme violência explícita nos olhos do público. Mesmo assim, há algo de tenebroso que corrói nosso bem-estar de pouco em pouco, enquanto acompanhamos a trama. Em alguns momentos, o espectador até se pergunta se não há uma outra pessoa na casa, manipulando os acontecimentos e transformando aquela realidade no macabro.

As referências de “O Chalé” não são apenas a Heaven’s Gate, mas o filme também é fortemente inspirado por “O Iluminado”, história de Stephen King adaptada para as telas por Stanley Kubrick. Assim como no clássico com Jack Nicholson, o enredo se passa em um local isolado durante uma nevasca e também gira em torno da saúde mental de seu protagonista. Além disso, o cachorrinho de Grace se chama Grady, nome do ex-zelador do hotel em que Jack Torrence e sua família ficam hospedados.


Filme: O Chalé
Direção: Severin Fiala e Veronika Franz
Ano: 2019
Gênero: Terror/Psicológico
Nota: 8/10

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.