O jornalista americano J. Peder Zane, do The News & Observer, perguntou a 125 escritores, de vários gêneros e nacionalidades, quais os maiores livros de ficção de todos os tempos. Mais de 500 livros foram indicados pelos participantes. Nomes como: Ann Patchett, Peter Carey, Michael Chabon , Stephen king, Norman Mailer e Joyce Carol Oates, Annie Proulx, Jonathan Franzen, Claire Messud e Margaret Drabble, participaram da enquete. A lista, que causou grande polêmica por deixar de fora escritores como William Faulkner, Henry James, Thomas Mann e Miguel de Cervantes, traz dois autores franceses, Gustave Flaubert e Marcel Proust; três russos, Lev Tolstói, A. P. Tchekhov e Vladímir Nabókov; dois ingleses, William Shakespeare e George Eliot; e dois norte-americanos, Mark Twain e F. Scott Fitzgerald.
Os livros selecionados percorrem mais de 350 anos de literatura: de “Hamlet”, de William Shakespeare, publicado em 1599, a “Lolita”, de Vladímir Nabókov, publicado em 1955. O resultado das entrevistas foi compilado no livro “The Top Ten: Writers Pick Their Favorite Books”, sem tradução no Brasil. Abaixo, em ordem de classificação, o resultado da pesquisa. As sinopses são das respectivas editoras.
“Publicado originalmente em forma de fascículos entre 1875 e 1877, antes de finalmente ganhar corpo de livro em 1877, ‘Anna Kariênina’ continua a causar espanto. Como pode uma obra de arte se parecer tanto com a vida? Com absoluta maestria, Tolstói conduz o leitor por um salão repleto de música, perfumes, vestidos de renda, num ambiente de imagens vívidas e quase palpáveis que têm como pano de fundo a Rússia czarista. Nessa galeria de personagens excessivamente humanos, ninguém está inteiramente a salvo de julgamento: não há heróis, tampouco fracassados, e sim pessoas complexas, ambíguas, que não se restringem a fórmulas prontas.”
“Flaubert inventou um estilo totalmente novo e moderno, praticando uma escrita que, ao longo dos cinco anos que levou para terminar o livro, literalmente avançou palavra a palavra. Cada frase devia refletir o esforço em obtê-la, sendo reescrita e reescrita ad infinitum. Mestre do realismo, o autor documenta a paisagem e o cotidiano da segunda metade do século 19, ironizando os romances sentimentais e folhetins, gêneros que considerava obsoletos. A história faz um ataque à burguesia, desmoralizando-a com a descrição exuberante de sua banalidade. Em um tempo em que as mulheres eram submissas, Emma Bovary encontra nos tolos romances dos livros o antídoto para o tédio conjugal e inaugura uma galeria de famosas esposas adúlteras atormentadas na literatura.”
“‘Milhões de pessoas praticaram, umas contra as outras, uma quantidade tão inumerável de crimes, embustes, traições, roubos, fraudes, falsificações de dinheiro, pilhagens, incêndios e assassinatos, como não se encontra nos autos de todos os tribunais do mundo em séculos inteiros. O que produziu tal acontecimento extraordinário?’. Empenhado em responder a esta pergunta, através da busca pela verdade histórica dos fatos, e em argumentar com os historiadores de sua época, que no seu entender resumiam os acontecimentos nas ações de algumas figuras poderosas, Lev Tolstói escreveu um dos maiores romances da literatura mundial. ‘Guerra e Paz’ descreve a campanha de Napoleão Bonaparte na Rússia e estende-se até o ano de 1820. Baseado em meticulosa e exaustiva pesquisa — com fontes que vão dos estudos do francês Adolphe Thiers e do russo Mikháilovski-Danílevsk a testemunhos orais —, Tolstói reconta os episódios que culminaram na derrota francesa e retrata, à sua maneira, personagens reais, como o próprio Napoleão e uma série de comandantes militares.”
“Um dos mais importantes romances do século 20. Polêmico, irônico, tocante, narra o amor obsessivo de Humbert Humbert, um cínico intelectual de meia-idade, por Dolores Haze, Lolita, 12 anos, uma ninfeta que inflama suas loucuras e seus desejos mais agudos. A obra-prima de Nabokov, agora em nova tradução, não é apenas uma assombrosa história de paixão e ruína. É também uma viagem de redescoberta pela América; é a exploração da linguagem e de seus matizes; é uma mostra da arte narrativa em seu auge. Através da voz de Humbert Humbert, o leitor nunca sabe ao certo quem é a caça, quem é o caçador. Nabokov compôs a maior parte do manuscrito entre 1950 e 1953. Nos dois anos seguintes, ouviu recusas de cinco editoras norte-americanas. Em 1955, foi finalmente aceito por uma obscura editora francesa.”
“Lançado em 1885 como sequência de ‘As Aventuras de Tom Sawyer’ (1876), a história de Huck Finn, no entanto, ganhou autonomia: é unanimemente considerada a obra-prima de Mark Twain e mudou para sempre o imaginário dos Estados Unidos. Para se livrar do pai bêbado e violento, Huckleberry Finn se refugia em uma pequena ilha do rio Mississippi, onde se alia com Jim, um escravo fugido. Em busca de liberdade, a inusitada dupla se lança numa viagem pelo leito do rio, às margens da sociedade pré-Guerra Civil. Marco fundador da narrativa estadounidense, o romance registrou a fala comum da gente simples e inaugurou a tradição — central das artes americanas — do anti-herói jovem e espirituoso que, graças à condição de desajustado, goza de uma visão privilegiada do mundo. Muitas vezes alvo de polêmicas, Huck Finn não cessa de suscitar reflexões sobre o absurdo da humanidade.”
“Um jovem príncipe se reúne com o fantasma de seu pai, que alega que seu próprio irmão, agora casado com sua viúva, o assassinou. O príncipe cria um plano para testar a veracidade de tal acusação, forjando uma brutal loucura para traçar sua vingança. Mas sua aparente insanidade logo começa a causar estragos — para culpados e inocentes. Esta é a sinopse da tragédia de Shakespeare. Mas a trama inventada pelo dramaturgo inglês vai muito além disso: Hamlet é um dos momentos mais altos da criação artística mundial, um retrato — eletrizante e sempre contemporâneo — da vida emocional de um homo sapiens adulto.”
“Nos tempos de Jay Gatsby, o jazz é a música do momento, a riqueza parece estar em toda parte, o gim é a bebida nacional(apesar da lei seca) e o sexo se torna uma obsessão americana. O protagonista deste romance é um generoso e misterioso anfitrião que abre a sua luxuosa mansão às festas mais extravagantes. O livro é narrado pelo aristocrata falido Nick Carraway, que vai para Nova York trabalhar como corretor de títulos. Passa a conviver com a prima, Daisy, por quem Gatsby é apaixonado, o marido dela, Tom Buchanan, e a golfista Jordan Baker, todos integrantes da aristocracia tradicional.”
“Ciclo de sete romances do escritor francês, inter-relacionados e com um só narrador, dos quais os três últimos são póstumos: ‘O Caminho de Swann’, ‘À Sombra das Raparigas em Flor’, ‘O Caminho de Guermantes’, ‘Sodoma e Gomorra’, ‘A Prisioneira’, ‘A Fugitiva’ e ‘O Tempo Redescoberto’. São dezenas de personagens que se cruzam em histórias de amor, ciúmes e inveja, na França da Belle Époque. A narrativa vai passando do detalhe ao painel e do painel ao detalhe sem projeções definidas, num constante reajuste de tudo aquilo que nunca será perfeitamente ajustado. A obra é um retrato da sociedade de uma época, um mergulho no universo da burguesia francesa que permite que o leitor sinta as divergências entre nobres e burgueses.”
“Tchekhov escrevia livros tristes para pessoas alegres; quero dizer com isto que só um leitor com sentido de humor será capaz de sentir a fundo a tristeza deles. Há escritores que emitem um som intermédio entre o riso abafado e o bocejo — muitos deles, a propósito, são humoristas profissionais. A outros, por exemplo a Dickens, sai uma coisa intermédia da risada e do soluço. Existe também uma variedade horrível de humor utilizada de propósito pelo autor para dar um escape puramente técnico depois de uma tempestuosa cena trágica, mas o truque nada tem a ver com a verdadeira literatura. O humor de Tchekhov é alheio a isso tudo; é um humor puramente tchekhoviano. O mundo, para ele, é cómico e triste ao mesmo tempo, e sem repararmos na sua comicidade não compreenderemos a sua tristeza, porque são inseparáveis.”
“‘Middlemarch’ é o mais importante romance saído do período vitoriano. Nele, George Eliot aborda todos os temas fulcrais da vida moderna: arte, religião, ciência, política, carácter, sociedade e relações humanas. Entre as suas personagens estão algumas das mais notáveis da literatura inglesa: Dorothea Brooke (a heroína), Rosamond Vincy (bela e egoísta), Edward Casaubon (o estudioso), Tertius Lydgate (um médico brilhante de duvidosa moralidade), Will Ladislaw (o artista) e Fred Vincy e Mary Garth (namorados de infância).”