Vencedor de diversos prêmios internacionais, entre eles o de melhor direção e filme, escolhido pelo grande júri do Festival de Cinema de Miami, “O Lobo Atrás da Porta” consagrou Fernando Coimbra como um cineasta de calibre internacional. Depois dessa obra aclamada mundialmente, o diretor passou a assumir produções hollywoodianas, como “Castelo de Areia”, e episódios das séries “Narcos” e “Perry Mason”.
Inspirado em uma história real ocorrida no Rio de Janeiro, na década de 1960, “O Lobo Atrás da Porta” segue em ritmo instigante as investigações pelo desaparecimento da menina Clara (Isabelle Ribas), raptada de uma creche em um bairro da periferia carioca. Coimbra costura com sutileza os mistérios que envolvem o crime, colocando o espectador dentro de um jogo de gato e rato, onde nada é 100% confiável.
Uma obra-prima do cinema nacional, o longa-metragem que teve sua estreia mundial no Festival de Toronto, onde foi aclamado, nos envolve com muita competência. Assumimos a posição do delegado sem nome, interpretado por Juliano Cazarré, que conduz os interrogatórios com a experiência e a malícia de alguém que já viu de tudo em sua profissão e que sabe qual rota traçar para chegar até a verdade.
Quando o filme começa, o crime já aconteceu. A mãe da vítima, Sylvia (Fabíula Nascimento), vai à delegacia desesperada, onde relata o desaparecimento da filha, levada da creche naquele mesmo dia por alguém misterioso. Quando o delegado interroga a professora e dona da creche, Arlette (Karine Teles), ela revela que deixou a menina ir com uma mulher que claramente era íntima da família, alguma vizinha ou parente, já que Clara correu para os braços da suposta sequestradora. O fato da criança ter ficado à vontade com a pessoa fez com que a professora sentisse segurança de entregá-la nas mãos da desconhecida.
Mas o delegado já sabe quais perguntas fazer quando Bernardo (Milhem Cortaz), pai de Clara e marido de Sylvia, se senta na cadeira do escritório policial. O investigador induz o homem a revelar o caso extraconjugal com Rosa (Leandra Leal), uma mulher atraente e solitária, que vive no mesmo bairro que a família. Quando Rosa é chamada para depor, nega o relacionamento com Bernardo e diz que não pegou a criança. Mas suas mentiras são descobertas quando o detetive coloca a professora frente a frente com a amante, e a reconhece.
Então, Rosa é obrigada a assumir o caso que tem com Bernardo e diz que foi ela quem buscou Clara na creche, mas que apenas atendia uma ordem de Betty (Thalita Carauta), uma suposta conhecida do bairro, que teria problemas pessoais com Sylvia. Rosa também diz que entregou a criança para Betty após buscá-la na escola.
Uma teia de histórias e intrigas é armada para justificar e explicar o paradeiro de Clara. Ouvimos atentamente, assim como o delegado, cada depoimento, com o intuito de descobrirmos o que de fato aconteceu com a criança e onde ela está. Mas, como tudo que é dito é um ponto de vista de um participante da história, nenhuma versão é confiável ou comprovadamente verdadeira. Precisamos ligar os pontos para solucionar o caso, que se revela cada vez mais impactante, conforme as relações entre os personagens se mostram mais complexas, densas e intricadas.
“Um Lobo Atrás da Porta” não é necessariamente cheio de reviravoltas, mas tem um desenrolar surpreendente e intrigante. As atuações são tão envolventes, que é impossível não se deixar levar, ao longo da trama, pelas versões apresentadas. Manipulado de maneira inteligente e sagaz, o filme de Coimbra mostra o melhor lado do cinema nacional, aquele que queremos que o mundo veja: criativo, intelectual, social e autêntico. Com uma face e uma pegada toda nossa. Esse longa-metragem é um excelente exemplo dessa qualidade e idiossincrasia da sétima arte proveniente do Brasil.
Filme: O Lobo Atrás da Porta
Direção: Fernando Coimbra
Ano: 2013
Gênero: Suspense / Policial
Nota: 10