Romain Gavras é um cineasta francês mais conhecido por seus videoclipes para a rapper M.I.A. e seus comerciais para marcas de luxo, como Yves Saint Laurent e Dior. Mas ele tem alguns longas-metragens em seu currículo, entre eles, “Athena”, seu último e mais conhecido trabalho. Antes dele, Gavras lançou “O Mundo é Seu”, de 2018, uma espécie de comédia dramática com ação e muito caos. Ele sucedeu “Nosso Dia Chegará”, lançado em 2010. Ou seja, foram oito anos de hiato entre um filme e outro.
Considerado por Gavras um anti-“Scarface”, “O Mundo é Seu” narra a história de François (Karim Leklou), filho da vigarista patológica Danny (Isabelle Adjani) e que mora em um bairro de periferia franco-árabe em Paris. Ao contrário da mãe, que nasceu para a vida no crime, o sonho de François é deixar de ser um pequeno traficante de drogas para distribuir legalmente picolés da marca Mister Freeze no norte da África. Ele pretende usar o dinheiro de sua poupança, abastecido ao longo dos últimos três anos, para investir na sua ideia de negócio. Só que seus planos vão por água abaixo quando descobre que sua mãe torrou todo a sua grana.
Baseado nas comédias italianas dos anos 1970 e inspirado na relação de Gavras com própria mãe, o filme retrata a dinâmica entre Danny e François. Ela quer que seu filho seja esperto, bem-sucedido e se imponha, demonstrando poder, mas François é um homem gentil, doce e que detesta maldades. É seu verdadeiro oposto. Só que ele decide que precisa praticar um último crime para conseguir realizar seu projeto de negócio. Então, com ajuda de dois criminosos atrapalhados, de seu ex-padrasto recém-saído da prisão Henry (Vincent Cassel) e de Lamya (Oulaya Amamra), seu interesse romântico, François se envolve em uma transação com um traficante escocês (Sam Spruell) nada confiável. É claro que as coisas vão dar muito errado.
Quando o criminoso dá o golpe em François, ele entra em contato com sua mãe para pedir ajuda. Danny chega com toda sua aura de super-heroína e sua elegância arrogante para tomar as decisões que o filho não consegue e resolver da forma mais prática possível. Só que tudo sai do esperado quando, ao arrombar o cofre do traficante, Danny não encontra dinheiro algum. Então, ela decide sequestrar a filha do homem e pedir resgate.
A situação deixa François constrangido e pressionado, tanto por sua mãe quanto pelo pai da refém, que não o respeita. Além disso, ele não quer que a menina se machuque. Então, tenta, a todo momento, apaziguar os ânimos dos envolvidos. Enquanto desenrola sua trama propositalmente atrapalhada, Gavras tece comentários sociais sobre os refugiados muçulmanos na Europa, o racismo e os estereótipos.
Acostumado com materiais publicitários e musicais para público jovem e moderno, o filme de Gavras segue seu estilo estético descolado e enérgico, que remete à luxúria e a riqueza, reforçando a superficialidade do mundo que ele retrata e, também, provocando uma sensação inconsciente no público de repulsão da ostentação. Colorido, contrastado e vibrante, as câmeras fazem movimentos inesperados e inusitados, uma representação da impulsividade dos personagens, que vivem vidas bastante imprevisíveis.
Um filme divertido, autêntico e subestimado, “O Mundo é Seu” é mais um exemplo de como nossos olhos devem permanecer atentos ao que Romain Gavras produz. Seu material possui bastante substância.
Filme: O Mundo é Seu
Direção: Romain Gavras
Ano: 2018
Gênero: Comédia / Ação
Nota: 9/10