Filme adorável com Julia Roberts na Netflix é uma aula sobre a vida e o amor François Duhamel / CTMG

Filme adorável com Julia Roberts na Netflix é uma aula sobre a vida e o amor

Vivemos em busca da felicidade plena. Nossa vida inteira é uma procura inesgotável por algo que nos faça sentir completos, realizados. Mas mesmo quando alcançamos sonhos, objetivos e realizamos projetos, nunca nos sentimos satisfeitos. É como se procurássemos sempre além do horizonte, que se afasta cada vez que chegamos mais próximo. Há uma eterna sensação de insatisfação, que embora seja angustiante, é uma força propulsora que nos mantém sempre seguindo em frente.

O filme “Comer, Rezar e Amar”, de Ryan Murphy, baseado no livro autobiográfico de Liz Gilbert, ao contrário de como descrevem por aí, não é uma história de amor entre Liz e seu segundo marido, Felipe (que na verdade se chama José), mas é uma história de busca pela felicidade, pela paz interior e pela completude. No enredo, Liz (Julia Roberts) é uma jornalista bem-sucedida, que se casa com um marido sonhador e que a ama loucamente. Mesmo assim, após algum tempo casada, ela se sente infeliz com os rumos pouco surpreendentes e emocionantes que sua vida tomou. Ela se sente entediada com a realidade e infeliz com seu relacionamento. Ela se sente uma espectadora da vida que ela própria ajudou a construir, então acredita que precisa se libertar.

Após pedir o divórcio, Liz se envolve com David (James Franco), um rapaz anos mais jovem. Logo escuta de um amigo, Mike (Andy Shiraz), que ela se transforma em todos os homens com quem se envolve, “assim como um dono fica parecido com seus cachorros”. Fato é que Liz se entrega tão intensamente aos seus romances, que deixa de ser ela própria para se tornar um reflexo de seus parceiros, se esvaziando de si mesma, de suas vontades e personalidade. Com objetivo de se redescobrir, ela decide largar David e fazer uma viagem solitária pela Itália, Índia e Indonésia.

Em sua passagem por Roma e Nápoles, Liz redescobre o prazer pela comida, pela vida, pelas amizades. Na Índia, ela passa um tempo em um ashram em busca de palavras de sabedoria da Guru Gita, mas ao invés disso, Liz conhece um amigo irritante, chamado Richard do Texas (Richard Jenkins), que a ajuda a limpar sua mente da torrente de pensamentos e a descobrir que é preciso se perdoar ao invés de esperar pelo perdão dos outros. Também que Deus está dentro de cada um de nós e não busca por demonstrações de espiritualização. Já em sua viagem à Bali, na Indonésia, Liz reencontra o xamã Ketut, que ela havia conhecido anos antes em outra passagem por lá, ela se apaixona pelo brasileiro Felipe (Javier Bardem) e, com seus aprendizados acumulados ao longo das estadias nos três países, ela aceita quem realmente é antes de se entregar ao novo amor.

A verdade é que na conclusão da história de Liz, ela não chega ao seu destino: a satisfação completa, a realização pessoal, a felicidade derradeira, apesar do filme ter um final feliz. Ela ainda está no meio de sua trajetória e, talvez, a vida nunca nos conduza ao nosso destino. É provável que ele seja apenas um sonho, um objetivo traçado, mas que nunca se cumpre, porque é um ideal, uma utopia. Mas as lições da história de Liz também ficam para o espectador. É preciso conviver bem consigo mesmo, afinal, não há outra vida a ser vivida. Apenas essa. É preciso que a gente aprenda a se amar, a se perdoar e a descansar, quando estivermos muito cansados. É preciso dar uma chance ao amor, mas não sem antes soubermos quem somos de verdade. Neste romance de Ryan Murphy, que é um rei do entretenimento e entrega excelentes produções que conseguem capturar o público pela emoção e pela diversão, “Comer, Rezar e Amar” é um filme perfeito para embalar seu dia de sentimentalismo e doçura, em uma atuação sempre muito cativante de Julia Roberts.


Filme: Comer, Rezar e Amar
Direção: Ryan Murphy
Ano: 2010
Gênero: Romance
Nota: 8/10

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.