Começa assim. Você me pergunta o meu signo. Eu respondo com a naturalidade de quem diz que horas são: sou de Gêmeos. Pronto, dá-se início ao tiroteio de rótulos lançados sobre mim. “Duas caras, inconstante, superficial, muda de opinião como quem muda de roupa”. A última vez que passei por isso ouvi pelo meio da cara, de alguém que mal acabava de conhecer, que sou promíscua. Hein? Só porque nasci entre o dia 21 de maio e 20 de junho? Espere um pouco, meu bem. O meu buraco é negro e mais embaixo.
As pessoas têm a mania de perguntar o signo da gente, dos homens, dos cachorros, gatos e porcos da índia. Parece que, a partir da resposta, elas estão altamente qualificadas para lidar conosco, até porque o nosso signo diz, com a precisão de um cego bisturi, quem somos de fato.
Não venha me dizer que eu não acredito em astrologia, na posição dos planetas, na angulação do sol e nas influências que o Universo imprime em nosso nascimento. Honestamente e humildemente eu creio em tudo isso, mas — sinto muito — eu não caibo em apenas um manual restrito e obsoleto. Aliás, nem eu nem ninguém. Quando digo que sou mais do que isso é porque, por mais que eu confie na movimentação dos corpos celestes, eu acredito, inclusive, que não posso ser definida feito bula de remédio, com descrições invariáveis para todos aqueles nascidos no mesmo período.
Repare como a questão vai se tornando interessante. Sabemos que existe a influência do Universo. Isso é inquestionável. Mas sabemos também que indivíduos são seres únicos e, portanto, se dividem em classes, se subdividem em gêneros, até que cada um tenha as suas próprias características e particularidades de acordo com a posição da Terra. Eu, por exemplo, sou geminiana com ascendente em Áries e lua em Libra. O que isso significa?
A) Que não sou apenas geminiana
B) Que não sou igual a você
C) Que não sou igual a ninguém
D) Todas as alternativas anteriores
É inadmissível a ideia de que uma pessoa julgue me conhecer e tenha a autoridade para me definir e saber das minhas vísceras só porque ela sabe o meu signo. Me dá vontade de perguntar: Você não quer que eu passe um café, que te conte um pouco da vida? Não. Ela não quer. Já me classificou, me pôs na prateleira dos que são assim e assado. Não há o que eu faça ou fale ao meu respeito. Nada a fará mudar de opinião sobre mim. E, ainda por cima, qualquer atitude minha será esperada, já que os “geminianos são desse jeito”.
Um exemplo. Conheço dois capricornianos que fazem aniversário no mesmo dia e são pessoas completamente diferentes, praticamente nascidos em planetas distintos. Há quem diga que é impossível e que no fundo eles são mais parecidos que gêmeos siameses. Esquece. Eles não são. Assim como nem todos os cancerianos são sensíveis, os virginianos são metódicos e os leoninos arrogantes.
Você lembra quando foi descoberto o décimo terceiro signo? Isso mudaria os signos de todos nós. Pessoas ficaram revoltadíssimas com essa possibilidade. Até porque, como poderiam pertencer a outra classe senão àquela de toda uma vida? Deixar de ser de Escorpião para se tornar o contemporâneo Serpentário! Jamais!
Mas e se eu também for uma mistura genes, uma cadeia única de cromossomos, moléculas e átomos? E se eu também for um somatório de vivências, um apanhado de histórias, um resultado inacabado de traumas e lutas? E se eu também for alma, instinto, essência, substância? Seguramente eu sou um conjunto com incontáveis — e talvez indecifráveis — elementos.
Então, afinal de contas, quem poderá nos definir?
A) A Ciência
B) A Biologia
C) O Universo
D) Todas as alternativas anteriores
Eu só sei que da próxima vez que alguém me perguntar o meu signo, vou responder “Serpentário”, só para observar o hiato da expressão oca daquele que, definitivamente, não me conhece. Se nem eu me entendo, como pode alguém saber tudo de mim?